por Rodrigo Vianna
Na sala reservada aos convidados, logo atrás do palco, Lula estava ansioso. A mesa de abertura do Segundo Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas era conduzida por Maria Frô e Ênio Barroso. Os dois blogueiros saudaram as mais de 400 pessoas presentes, e chamaram – antes de Lula – o governador do Distrito Federal, Agnello Queiroz, que deu as boas vindas aos participantes que acabavam de chegar ao auditório da CNTC (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio)
Atrás do palco, Lula brincava, inspiradíssimo: “agora ficou chic ser brogueiro”, fazendo graça com os que dizem que ele erra no Português. “ Eu quero ver o Agnello falar pros ´brogueiros´progressistas”. Lula não se agüentou, pôs a cabeça pra fora da porta, olhando para o auditório gigante. Cinegrafistas e fotógrafos perceberam a presença do ex-presidente e os flashes estouraram.
Cinco minutos depois, Ênio chamou à mesa aquele homem inquieto, que foi saudado de pé: “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”.
Numa fala de improviso, Lula mandou alguns recados. Primeiro aos blogueiros, lembrando o papel da internet como contraponto à velha mídia na última campanha eleitoral:
“os blogueiros tiveram um papel extraordinário, mostraram que o povo não precisa mais de intermediário mais na comunicação.”Citou o caso da “bolinha de papel”, mandando então recados a Serra e aos tucanos:
“às vezes, eu tenho vontade de ir naquela clínica ver o exame que foi feito na cabeça do candidato”E arrematou:
“Quem chamou você de blogueiros sujos era quem fazia a sujeira”Lula deu outros recados. Um deles, especial, dirigido ao Ministro das Comunicações Paulo Bernardo, que falaria logo depois:
“Paulo, a gente nao pode ter medo do debate”.Aliás, um detalhe curioso. Quando Lula citou Bernardo, houve aplausos discretos. Quando citou a presença de Franklin Martins (que dirigia a Secom no governo de Lula), o público aplaudiu efusivamente. Um reconhecimento de que Franklin teve a coragem de mexer em pontos sensíveis, ao propor um novo Marco Regulatório – que Paulo Bernardo promete mandar ao Congresso em breve (mas há certa desconfiança sobre qual projeto será enviado: o original, do Franklin? Ou um projeto mais amaciado, para agradar certas corporações?).
Ao final da fala, Lula foi cercado por blogueiros e militantes. O povo queria fotos, queria autógrafos. O sururu estava criado: aquilo virou uma confusão. Maria Frô conseguiu botar ordem na casa, depois de algum esforço. Lula desceu do palco, e seguiu para sala dos convidados. Dois blogueiros peruanos – que acompanharam a recente eleição de Ollanta Humala – entraram na sala pra falar com Lula. E ele fez graça de novo:
“Olha aí, onde tem brogueiro, a gente elege um mala”.
Lula foi embora, seguido por aquele batalhão de repórteres e cinegrafistas do chamado PIG, que tentavam arrancar uma declaração qualquer. Eu – que sou jornalista de TV, e tantas vezes estive na pele daqueles pobres (alguns nem tão pobres) repórteres, que se acotovelam atrás da autoridade que precisa ser entrevistada – fiquei até com pena.
Lula parou pra falar com militantes, com uma senhora sergipana que pedia autógrafos. Tirou fotos, distribuiu abraços. Aos repórteres, nada! Aquele também era um recado. Os intermediários da comunicação estão perdendo espaço e poder.
A presença de Lula foi uma festa. Mas foi também uma grande vitória. Lula não tem ido a qualquer evento. Dá palestras pagas, com cachê alto (que ajuda a bancar o Instituto que ele está montando em São Paulo).
Mas a presença ali na abertura do Segundo Encontro de Blogueiros, sem cachê, e com o vigor e a energia demonstrados, era mais um recado: Lula reconhece o papel central da nova comunicação. Reconhece o papel dos “brogueiros”.
E prometeu, mais uma vez: em breve também será um “brogueiro”.
Brogueiro sujo? Pode ser… Mas lembrando sempre: quem faz sujeira,mesmo, é outra turma, que a gente conhece bem…
PS: agora há pouco, depois das belas falas de Comparato, Erundina e Venicio, Paulo Henrique Amroim pediu a palavra e lembrou – Ä festa de ontem (com Lula) foi bonita, mas é preciso lembrar que essa festa nao é completa porque o governo anterior não teve coragem de encarar a batalha do Marco Regulatorio”. Ou seja: Lula fez menos do que poderia nessa área da comunicacao.
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