sexta-feira, 29 de julho de 2011

O que é um crime na internet? Você sabe?

Victor Zacharias

A rede de computadores tem produzido coisas para o bem e para o mal.
Sabemos que crimes podem ser cometidos pela internet, no entanto para que sejam punidos é preciso que a lei defina o crime neste meio. E isso hoje não existe.
Hoje 50% dos processos criminais não tem prosseguimento no judiciário porque não há tipificação na lei.
Há um projeto de lei, PL 84/99, do deputado Azeredo do PSDB, que ainda levanta muitas dúvidas. Por isso a deputada Erundina do PSB protocolou um pedido ontem (28/7) para que seja feito um seminário sobre este assunto antes que seja votado na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.(Camara Federal)
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Para o Idec, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o projeto poderá tornar crimes atividades cotidianas como ter um blog, digitalizar músicas e filmes, e desbloquear celulares. O instituto está recolhendo assinaturas para uma petição que propõe a tramitação do projeto pela Comissão de Defesa do Consumidor. (Assine a petição)
Internet Livre
Já o sociólogo Sérgio Amadeu, ativista do movimento Internet Livre, criticou o texto. "Por exemplo, um menino que comprou um CD e não leu naquele CD de música que está proibido ele passar isso para um sistema informatizado como um pendrive. Um juiz pode interpretar isso como crime."
#FrenteCom
Ministro das Comunicações Paulo Bernardo
O deputado Emiliano José do PT, coordenador da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e pelo Direito à Comunicação, entregou uma petição contrária a proposta de crimes cibernéticos com 163 mil assinaturas. Antes é preciso que seja feito o Marco Civil da Internet estabelecendo direitos e deveres de usuários e provedores.
Ministro das Comunicações - Paulo Bernardo
Desde a promulgação da Constituição Federal, as políticas públicas de comunicação no Brasil viveram alguns momentos cruciais. Em 1995, foi publicada a Lei do Cabo (Lei 8.977/95), em 1997 foi instituída a Lei Geral de Telecomunicações (Lei 9.472/97), seguida da privatização do sistema Telebrás. Em 1998, é publicada a restritiva Lei de Radiodifusão Comunitária (Lei 9.612/98) e em 2002 é viabilizada a entrada de 30% do capital estrangeiro nas empresas de rádio e televisão, por meio de uma Emenda Constitucional. Em 2006, é publicado o Decreto 5.820/06 que estabeleceu as regras para TV Digital e, em 2008, é instituída por lei a Empresa Brasil de Comunicação - EBC (Lei 11.652/08). Na grande maioria dos casos, a sociedade civil foi apenas coadjuvante do processo. Políticas de comunicação sempre foram compreendidas como assunto do governo e de quem tem interesse econômico direto, isto é, os empresários do setor. Não por acaso, o resultado da maioria dos casos foi a prevalência dos interesses privados em detrimento do interesse público – exceções serviram apenas para confirmar a regra.(Intervozes)
Em dezembro de 2009 foi realizada a Confecom com a participação da sociedade civil, do meio empresarial e dos movimentos sociais. Nesta conferência foram aprovadas quase 700 resoluções.
Após a Confecom, dezenas de movimentos pró direito à comunicação, reunidos sob a sigla Frentex, continuaram a pressionar o governo para que as resoluções fossem traduzidas para um Marco Regulatório das Comunicações Sociais.
A Frentex está propondo uma reunião com o Ministro Paulo Bernardo, na Alesp em São Paulo, para o mês de agosto, afim de que o Ministro exponha os avanços e os próximos passos que estão sendo  dados pelo governo federal para garantir o direito à comunicação para todos os brasileiros.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Com dinheiro em caixa Palmeiras pode contratar jogadores

Guilherme Mendes
Nação Palestrina,
Parece um passe de mágica, mas não é.
A Diretoria do Palmeiras que iniciou seu mandato neste ano tendo como principal objetivo não atrasar o pagamento dos salários e dos direitos de imagem dos jogadores, missão esta que está sendo cumprida até o momento, agora pode trabalhar com mais tranqüilidade. Isso porque os caixas do clube vão receber um enorme aporte financeiro de 40 milhões de reais, proveniente de condenações judiciais obtidas em dois processos que tramitam perante a Justiça Comum.
Uma ação foi movida contra o arquirrival Corinthians quando o lateral-direito Rogério se transferiu para o clube do Parque São Jorge, no ano de 2000. Na época, ainda estava em vigor a “lei do passe” e o Corinthians deveria pagar R$16 milhões pela contratação do atleta, o que não aconteceu, pois o time se apoiou em uma decisão da Justiça Trabalhista em favor de Rogério e não cumpriu a obrigação.
Com o processo já em execução, o Palmeiras apenas aguarda o pagamento, que tem como prazo final o dia 1º de agosto, próxima segunda-feira, ocasião em que o Palmeiras poderá engordar seu cofre com R$34 milhões.
A outra ação foi proposta contra a equipe do Ituano-SP e, na data de hoje, julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo o qual decidiu pelo ganho de causa da equipe alvi-verde, resultando em uma condenação no valor de R$ 6 milhões que deverá ser paga pelo Ituano.
O caso, semelhante ao de Rogério, aconteceu em 2002. O time do interior de São Paulo contratou o atacante Basílio que tinha seu passe vinculado ao Palmeiras, sem ter pago o valor R$ 2 milhões na época. Agora o Ituano terá que pagar o valor corrigido, que representa a quantia de R$ 6 milhões.
Esse dinheiro virá em uma ótima hora, pois o Palmeiras poderá contratar o atacante Luan, cujo contrato de empréstimo com o Verdão se encerrará no próximo dia 31 de agosto, em definitivo, junto à equipe do Toulouse da França, por R$ 7 milhões.
Além dessa contratação, a Diretoria poderá buscar jogadores em outras equipes da Série A do Brasileirão, que não tenham completado seis jogos na competição, ou ainda nos times que disputam a Série B.
Entendo ainda que o Departamento Jurídico do Palmeiras deve acionar a Fifa para receber a multa de R$ 50 milhões de reais referente ao jogador Martinuccio, atualmente, no Fluminense.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Artistas fizeram manifestação contra o corte no orçamento feito pelo Minc e ocupam a sede da Funarte

O blog Fatos Etc, do Eduardo Maretti, fez uma chamada para a "grande manifestação” de artistas de teatro, música, dança, circo e culturas populares contra o corte de orçamento sofrido pelo Ministério da Cultura em 2011 e suas conseqüências para a produção cultural brasileira.
A manifestação foi na Rua Apa, à altura do número 83, no bairro de Santa Cecília, São Paulo, próximo à Funarte-SP.
Artistas em plenária para organizar manifestação
Osvaldo Pinheiro, que trabalha com teatro e é da coordenação do movimento, disse a Fatos Etc. que uma das principais bandeiras é a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 150, que destina um mínimo de 2% do orçamento geral da União à produção e difusão da cultura nacional (íntegra da PEC em link abaixo neste post). O sistema de isenção fiscal ao setor privado tal como funciona hoje no país é outro problema estrutural considerado grave pelos artistas e produtores culturais. “Arte pública é aquela financiada por dinheiro público, oferecida gratuitamente, acessível a amplas camadas da população – arte feita para o povo”, diz o manifesto É Hora de Perder a Paciência (íntegra aqui ).
O movimento que organiza as manifestações de segunda-feira considera inadmissível o corte das verbas do MinC, que caiu de 2,2 bilhões de reais para 800milhões de reais do Orçamento geral da União “em um momento de prosperidade da economia”. Além de tudo, as verbas da cultura são contingenciadas.
Osvaldo Pinheiro afirma que o movimento é apartidário e não se dirige exatamente contra a ministra Ana de Hollanda, mas à precariedade da política cultural, a descontinuidade de gestão e prioridades. No entanto, no ato do dia 25, os protestos contra a gestão da ministra devem acontecer e o movimento estará aberto para essa e outras manifestações, diz Pinheiro.
Mais informações no site Cooperativa Paulista de Teatro .
Para ler a íntegra da PEC n° 150 clique aqui :
Terezinha Vicente, da Ciranda - Comunicação Compartilhada, contou como aconteceu a manifestação. Sob o título de É hora de perder a paciência ! ela diz que a cultura não pode ser mercadoria. Por isso, o Movimento dos Trabalhadores da Cultura ocupa, desde esta segunda-feira, a sede da Funarte, em São Paulo. Eles querem que a cultura faça parte do desenvolvimento do país.
Venha ocupar a Funarte conosco! É o chamado que o movimento dos trabalhadores da cultura, em SP, fazem aos demais grupos e pessoas da cultura. Cerca de 600 trabalhadores das áreas de teatro, circo, dança, vídeo e outras artes, realizaram um forte ato na segunda-feira à tarde, que terminou com a ocupação da Funarte. Nesta terça-feira pela manhã, alguns grupos ensaiavam por ali. “Traga o seu coletivo para ocupar: transfira para cá os ensaios e trabalhos! Há bastante espaço! Abrimos as portas da Funarte! O MTC segue na luta por tempo indeterminado!” Leia mais na Ciranda.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Juiz decide: a Arena do Palmeiras vai continuar

Guilherme Mendes

Nação Palestrina,
Na última sexta-feira, dia 15/07, o Ministério Público do Estado de São Paulo ajuizou uma Ação Civil Pública com pedido de liminar, Processo nº 0025350-45.2011.8.26.0053, em andamento perante a 2ª Vara da Fazenda Pública do Fórum Hely Lopes Meireles, contra a empresa WTORRE Arenas Empreendimentos Imobiliários LTDA, a Sociedade Esportiva Palmeiras e a Prefeitura do Município de São Paulo, requerendo a imediata paralisação das obras de construção da Arena, sob o argumento de que estas poderiam causar impactos negativos tanto à população do entorno do Estádio, quanto ao sistema viário da região.
Hoje, dia 19/07, foi disponibilizada a decisão proferida pelo Juiz do caso, que indeferiu a liminar requerida, a qual segue abaixo:

Ação Civil Pública 0025350-45.2011.8.26.0053
Ministério Público do Estado de São Paulo
Municipalidade de São Paulo, Sociedade Esportiva Palmeiras e Wtorre Arenas
Empreendimentos Imobiliários Ltda
C O N C L U S Ã O
Em 15 de julho de 2011, vieram estes autos conclusos.
Vistos.
O Ministério Público do Estado de São Paulo ajuíza ação civil pública, com pedido de antecipação de tutela, contra WTorre Arenas Empreendimentos Imobiliários Ltda., Sociedade Esportiva Palmeiras e Municipalidade de São Paulo.
Narra que foi instaurado o Inquérito Civil nº 301/10, a pedido do Conselho Comunitário de Segurança Perdizes, para investigar a construção, pela WTorre, da arena no estádio “Palestra Itália”, pertencente à Sociedade Esportiva Palmeiras, ao argumento de que a obra traria impactos negativos à população do entorno e ao sistema viário da região.
Segundo a inicial, o Palmeiras, em 29 de janeiro de 2002, obteve o alvará nº 8000773961-03 do Projeto Modificativo de Alvará de Aprovação e Execução de Reforma, com aumento de área e sem mudança de uso.
De acordo com este documento, foi autorizada a construção de quatro pavimentos para garagem, sexto pavimento do salão de festas, anel superior das arquibancadas, camarotes, cabines de imprensa e cobertura do estádio, em adição aos blocos existentes.
Em 9 de fevereiro de 2009, o Palmeiras pediu a revalidação do referido alvará (processo administrativo nº 2009-0.052.799-0) e, em seguida, retificou o pedido para reconhecimento de validade de alvará, juntando fotos e notas fiscais para comprovar a continuidade das obras de reforma e ampliação.
Em 20 de maio de 2009, a Municipalidade emitiu o Pronunciamento CEUSO 047/2009, considerando em vigor o alvará 8000773961, nos termos dos itens 3.7.10 da Lei Municipal nº 11.228/92. e 3.h.5, do Decreto Municipal nº 32.329/92, impondo ao interessado o protocolo de comunicados comprovando o andamento das obras.
Esclarece o Ministério Público que as obras se encontram em andamento, com a demolição quase total do antigo estádio e corte da vegetação e de espécies arbóreas que guarneciam as dependências do clube.
Sustenta o Ministério Público, porém, que o Palmeiras jamais poderia aprovar qualquer ampliação de suas edificações, porque:
1º. Como clube esportivo social, não possuía 40% de áreas permeáveis;
2º. O alvará de 2002 teria caducado em razão da ausência de obras por um lapso superior a um ano, sendo precária a prova documental produzida pelo Palmeiras no processo administrativo; e
3º. Não se trataria de simples reforma com ampliação, mas de nova obra, com mudança de uso que descumpre requisitos e índices urbanísticos do Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo e da legislação que rege o regime jurídico dos clubes esportivos sócias da urbe.
É o relatório.
Decido.
A despeito da bem articulada peça inicial, não vejo como deferir a tutela pretendida na inicial, por não vislumbrar prova suficiente e por não verificar o perigo da demora.
Os argumentos trazidos na inicial dizem respeito a aspectos técnicos de engenharia que demandam dilação probatória por meio de perícia, sob o crivo do contraditório.
Ora, verificar os índices restritivos de taxa de ocupação e de coeficiente de aproveitamento, o respeito ao Plano Diretor, a ocorrência da caducidade do alvará por inércia por mais de um ano e a realização de obra nova (e não de simples reforma), demanda realização de perícia, na medida em que o juiz não dispõe de conhecimento técnico para chegar a alguma conclusão com o simples exame dos projetos e documentos técnicos apresentados.
Aliás, o Parquet teve que se valer de levantamento técnico, produzido por equipe multidisciplinar de assistentes, com formação em geografia, arquitetura e engenharia civil, florestal e de tráfego, o que demonstra, inegavelmente, que a questão é tecnicamente complexa.
Quanto ao tema caducidade do alvará, chega o MP a deixar mensagem subliminar, no sentido de que poderia ter havido elaboração de documentos ao menos ideologicamente falsos, matéria essa que somente pode ser comprovada por meio de perícia.
Disse o MP, no item 23: Aceitou-se, como prova, a apresentação de cópias de fotos e de notas fiscais com números seqüenciais próximos, preenchidas com grafias semelhantes e expedidas pela mesma pessoa jurídica (CEMAG Construções e Engenharia Ltda....), cujo sócio tem direta relação de amizade com um dirigente da SEP..., para considerar em vigor um alvará de reforma com aumento de área..., desprezando que a lei de regência exige comunicados para comprovar que a obra não ficou paralisada por mais de 1 ano.
No item 26 deixa patente a possível ocorrência de fraude: Chama a atenção que a nota fiscal nº 184... foi emitida em 13 de outubro de 2005, e a nota fiscal nº 187..., que lhe é posterior, data de 9 de novembro de 2004, com diferença de tempo de quase um ano antes.
Embora as constatações feitas pelo Ministério Público possam tangenciar para a ocorrência de manipulação de documentos e desvio de finalidade do ato administrativo, o Ministério Público, na ação civil pública, é parte com os mesmos ônus estabelecidos no art. 333, do Código de Processo Civil.
Por fim, não vislumbro efetivo perigo da demora, primeiro, porque o antigo Palestra Itália já não mais existe, e, mesmo que as obras prossigam, o Poder Judiciário poderá, mais à frente, impedir seu uso e, se procedente a pretensão, determinar a demolição e a restauração da vegetação (já destruída).
Vale lembrar que não há notícia de que o erário público esteja sendo afetado com a realização das obras, de modo que, se for necessário o desfazimento da obra, o prejuízo será exclusivo das entidades privadas, que, cientes da presente ação, estão a assumir o risco pelo insucesso do empreendimento.
Com esses fundamentos, indefiro a tutela requerida.
Citem-se.
Ciência ao Ministério Público.
Intimem-se.
São Paulo, 15 de julho de 2011 (19:25 horas).
Marcelo Sergio – Juiz de Direito (assinado digitalmente)

Conforme a decisão acima, as obras da Arena Palestra podem continuar sendo feitas pela empresa WTORRE, normalmente. A inauguração da nova casa do Verdão está prevista para o mês de abril de 2013. Dessa forma, o Estádio ficaria pronto a tempo da realização da Copa das Confederações e poderia receber partidas desta competição, pois atenderia os padrões técnicos estabelecidos pela FIFA, para competições internacionais.
Agora, é aguardar o julgamento do mérito da Ação Civil Pública, que não tem data pré-definida para ocorrer, e torcer para que a WTORRE cumpra com o cronograma de entrega da obra e, assim, o Verdão possa inaugurar seu novo Estádio, em 2013. 
Avanti Palestra!
Assista o vídeo:

terça-feira, 19 de julho de 2011

Outra democracia é possível, propõe Castells


Num diálogo com acampados em Barcelona, sociólogo sugere: política é muito mais que representação; internet livre é chave da mudança
Transcrição e tradução: Daniela Frabasile
Estranha Europa. No terreno dos direitos sociais e da política institucional, um passo atrás sucede o outro, numa espiral descendente que parece não ter fim. Na última semana, a Itália promoveu nova rodada de privatizações e ataques ao estado de bem-estar social (entre outros pontos, acabou a gratuidade das consultas médicas com especialistas, na rede pública de saúde). Medidas semelhantes têm sido adotadas há pelo menos um ano e meio, desde que o continente decidiu cobrar das sociedades o desfalque provocado nas finanças públicas pelo socorro aos bancos… As eleições, que deveriam corrigir tais retrocessos, parecem impotentes. Os partidos com chances reais de chegar ao poder igualaram-se, ao aderirem a um “pensamento único” que nunca ousa tocar os lucros do sistema financeiro. A esquerda mais radical parece, como tantas vezes, incapaz de dialogar com as maiorias.
E no entanto, engana-se quem julga que tudo são misérias. Nos últimos meses, a Europa converteu-se num laboratório de novas formas de mobilização da sociedade civil – marcadas pela autoconvocação e busca de autonomia. O processo começou em setembro de 2010, quando os estudantes britânicos e italianos mobilizaram-se maciçamente (e de modo muito criativo) contra a cobrança de mensalidades (no Reino Unido) e uma contra-reforma universitária (na Itália). Ampliou-se a partir de maio, quando a juventude espanhola transformou em acampamentos as praças principais de dezenas de cidades, para protestar contra o sequestro do futuro coletivo por “políticos e banqueiros”. Daí derivou a ocupação da Praça Syntagma, em Atenas.
De que modo estas novas formas de expressão e de luta poderão transformar a sociedade? Em todas as mobilizações recentes, busca-se uma nova democracia (e se procura praticá-la em micro-escala, na gestão de assuntos como alimentação, limpeza e segurança dos acampamentos). Constata-se que, na Europa, as instituições que deveriam representar a sociedade – Parlamentos e governos – perderam ou abandonaram este papel.
No entanto, é nestas instituições que ainda se concentra o poder – inclusive o de estabelecer ou extinguir direitos. É preciso, portanto, incidir sobre elas, pressioná-las – ainda que se procurem caminhos para superá-las, Como articular esta dialética, que exige reivindicar de quem se considera ilegítimo?
As praças espanholas foram, além de tudo, palco de importantes reflexões teóricas a este repeito. Os debates eram feitos ao ar livre, sem nenhuma solenidade – mas com muita densidade e empenho criador. Na Praça Catalunha, em Barcelona, o sociólogo e filósofo Manuel Castells compareceu a um dos diálogos. Falou cerca de 50 minutos, sobre Comunicação, Poder e Democracia. Lembrou sua condição de participante ativo dos movimentos de maio de 1968 – talvez o primeiro momento em que se reivindicou coletivamente a superação democrática das instituições surgidas da revolução francesa. Foi, como é de seu costume, claro e incisivo. Em alguns momentos, não se furtou a recomendar ações e posturas: por exemplo, a luta pela universalização do acesso à internet e a atitude de não-violência ativa.
Os vídeos com a fala de Castells estão disponíveis na internet (veja ao final do texto). Para que possa circular mais amplamente e despertar reflexão mais profunda, Outras Palavras transformou-o em texto escrito e traduziu-o para o português. Ótima leitura! (A.M.)
Meu nome é Manuel Castells. Sou professor e pesquisador da Universidade da Catalunha. Estou aqui para falar com vocês sobre Comunicação, Poder e Democracia. Uma das acampadas perguntou-me se gostaria de comparecer ao acampamento para falar de algumas das ideias que tenho desenvolvido há muitos anos, precisamente sobre este tema, e que estão reunidas num livro que lancei há pouco, Comunicação e Poder. Fiquei encantado, porque acho central debater publicamente estes temas. Quis contribuir à maneira que posso para um movimento que ocorre em Barcelona, na Catalunha, na Espanha e em outros países. Ontem, já havia 706 acampamentos em todo o mundo e continuam a se multiplicar. São como a água. Quando ela corre, passa por qualquer lugar, supera obstáculos.
Quando há uma necessidade real, sentida em muitas sociedades, baste que a luta por ela comece a se expressar em alguma parte para que se difunda um sentimento de que “nós também podemos”. Foi o que ocorreu, por exemplo, com as revoluções árabes. É interessante que um dos sites mais atualizados sobre o movimento [espanhol] chama-se “Yes, we camp”, reproduzindo o que Obama disse em sua campanha – embora saibamos que agora as coisas estão mais complicadas. O importante é que muitas pessoas, em todo o mundo, não aceitam a fatalidade da crise e pensam que podem fazer algo – o quê, ainda não sabem – para enfrentar a miséria política predominante e recuperar o papel de protagonistas que as pessoas sempre desejaram ter em seu futuro.
Não estou aqui para fazer um discurso político, mas para compartilhar o que pude fazer, em termos de investigação, reflexão e análise a este respeito, durante muitos anos. Começarei debatendo qual a relação entre comunicação e poder. Debaterei em seguida a crise que a democracia está vivendo e as soluções concretas que se propõem para a reconstrução desta democracia.
* * *
As relações de poder são essenciais em todas as sociedades e através da História. São, aliás, as relações essenciais em nossas sociedades, porque quem tem poder constrói as instituições em função de seus interesses e valores. As instituições que vivemos são, cada vez mais, simples expressões destas relações de poder.
Mas como se forma o poder? Ele está fundamentalmente em nossas mentes: não fora, mas dentro de nós. Claro que há, também, a violência e a intimidação, para o caso de nos atrevermos a pensar diferente – mas a História demonstra que um poder que se apoia apenas na violência é sempre débil. Para superá-lo, é preciso passar por muito sofrimento. Mas, em última instância, a dominação das mentes é muito mais eficaz que a tortura.
Por isso, a batalha do poder está em nossas mentes, na forma que pensamos. Ela determina o que fazemos. E as mentes são redes: redes neuronais, que formam suas visões de mundo, suas concepções, em relação com outras pessoas, outras mentes, outras redes de neurônios e com as redes de nosso entorno social e natural.
Tudo isso é o processo de comunicação. Ela é simplesmente a conexão entre distintas redes neuronais. O entorno comunicativo e o que se passa nele é, portanto, o elemento fundamental através do qual nossas mentes funcionam e, portanto, formam-se as relações de poder.
Onde quer que haja poder, haverá resistência a ele.
E o controle da comunicação foi sempre
a forma fundamental de exercício do poder
Felizmente há sempre, nas sociedades, não apenas poder mas, também, contrapoder. Se existe uma lei social geral certamente válida, é que sustenta: onde quer que haja dominação, haverá resistência a ela. Em consequência, ao longo do tempo e também aqui, hoje, o que aparece como “normal”, “natural”, “estabelecido”, “acordado” são simplesmente os resultados dos compromissos de luta e negociação que se dão entre distintos interesses e valores na sociedade. Quem ganha, vai ampliando seu poder nas instituições. Quem contesta o poder e apresenta ideias novas, se tem poder suficiente, vai mudando estas instituições. Esta é a História, continuamente. O vai-e-vem entre o velho e o novo; entre os interesses que já estão cristalizados, burocratizados nas instituições e as interesses e valores de quem quer propor uma nova maneira de ser e viver.
É por isso que o controle da informação e da comunicação foi sempre a forma fundamental de exercício do poder. O controle dos governos, das grandes empresas midiáticas – esta é a forma essencial. E por isso a política transformou-se, hoje, em algo midiático. O que não existe nos meios, não chega aos cidadãos – e, portanto, não existe. Aliás, o mais importante da política mediática não é tanto o que dizem os meios, mas o que eles ocultam: a ausência de mensagens, opiniões e alternativas.
Na medida em que há uma mudança organizativa e tecnológica no entorno da comunicação, mudam também os processos de comunicação, e como consequência as relações de poder. Qual a mudança fundamental que temos observado nos últimos anos? É a passagem de um sistema totalmente dominado pela comunicação de massas, e centrado nos meios de comunicação de massas, para um sistema que chamo de auto-comunicação de massas, através da internet.
Por auto-comunicação de massas podemos entender a capacidade de cada pessoa para emitir suas mensagens, selecionar as que quer receber e organizar suas próprias redes – nas quais os conteúdos, as formas e os participantes são definidos de forma autônoma. É claro que isso acontece em um cenário dominado por grandes empresas de comunicação e pelas empresas de internet. Porém, dentro desse espaço existem possibilidades infinitamente maiores que havia no espaço tradicional dos meios de comunicação de massa. Pode-se organizar redes horizontais de comunicação interativa, que chagam à sociedade através de pessoas, interesses, valores e grupos sociais não representados pelos sistemas corporativos de poder. Em consequência, ampliou-se extraordinariamente o espaço para a comunicação conflitiva, e portanto o espaço de auto-representação das pessoas na sociedade.
Durante anos, minhas observações dos movimentos sociais mostram que essa autonomia comunicativa tem sido aproveitada, para organizar e ampliar a mobilização. Desde março de 2004, na Espanha, existe um movimento espontâneo, através de mobilizações, provocadas pelas mentiras do governo naquele momento. Tudo o que se passou nos últimos anos e as revoluções árabes, toda essa experiência mostra que o processo muda a partir do momento em que é produzida alguma indignação por algum ato que já não se pode suportar. A partir dessa indignação organiza-se um debate. Desse momento em diante, as iniciativas de rede, do ciberespaço, passam ao espaço urbano, e se organiza uma interação entre o espaço urbano e o da rede virtual. Ela organiza, mobiliza, gera uma dinâmica que modifica instantaneamente as relações de poder na sociedade, e começa a influenciar o mais importante: as mentalidades das pessoas.
As pessoas percebem que não estão sozinhas e se tornam mais fortes. O sistema passivo de comunicação e democracia consiste em isolar as pessoas e agregá-las em função dos que controlam o poder
De repente, as pessoas percebem que não estão sozinhas. O que sentem, o que pensam, outros também sentem e pensam. E quando não estão sozinhas, as pessoas são mais fortes. Porque todo o conjunto do sistema passivo de comunicação e de democracia consiste em isolar essas pessoas e agregá-las em função dos que controlam os sistemas de poder nas instituições. A separação e agregação segundo o que já está estabelecido fazem com que só se possa pensar através dos sistemas predeterminados pelos interesses que dominam as instituições. A partir do momento em que surge uma dinâmica espontânea de organização em rede, na internet, nas ruas e nas relações interpessoais – a partir daí, a dinâmica muda. Quando as pessoas já não estão sozinhas, quando sabem que estão juntas, produz-se a mudança mais importante nas mentes,. Perde-se o medo de dizer e de fazer. Porque o medo é a emoção primordial do ser humano, porque todos somos descendentes de covardes, pois se os valentes não corressem o suficiente, eram pegos pelas feras.
Portanto, toda a sociedade está baseada na capacidade de instigar o medo nas pessoas, e na capacidade das pessoas em superar esse medo. Essa superação só pode ser feita em grupos, nunca individualmente. É da superação do medo, através da reunião de indivíduos em grupos – mas sem deixar a sua individualidade – que começam a surgir críticas, alternativas e debates sobre que outras formas de vida são possíveis.
* * *
Isso permite colocar saídas para a crise da democracia atual. Em todo o mundo, estamos vivendo uma crise muito séria e profunda da democracia. A democracia representativa foi uma conquista histórica dos povos, que custou muito sangue, suor e lágrimas, contra os despotismos que dominaram grande parte do mundo. Porém, a partir do momento em que já se constituem instituições democráticas, imediatamente formam-se partidos políticos, que definem as regras da participação política de acordo com seus interesses e os interesses que representam. Fecham-se outras vias de representação e se assegura por lei eleitoral que apenas os partidos majoritários podem governar.
A democracia representativa é reduzida, a distância em relação aos cidadãos aumenta, e a classe política organiza-se como classe própria, como trabalho profissional. Já não importa qual ideologia o político segue, ou se é corrupto ou não. Eles podem dizer: “a política sou eu, a política é o partido e o partido sou eu”. Qualquer tipo de intervenção política tem que passar por essa instância estrutural dos partidos. Em consequência, quando há corrupção, há impunidade. Quando há erros graves na condução de políticas sobre a crise econômica, não se responsabiliza ninguém por tais erros e pelas consequências que produziram sobre os cidadãos. Só quando chegam as eleições os políticos pagam por seus erros. Mas o eleitor deve escolher entre dois menus da mesma cozinha. Porque as leis eleitorais foram construídas para que os partidos majoritários continuem sendo majoritários. A menos que ocorram “terremotos eleitorais”, o que não é impossível, mas só acontece como consequência de mudanças sociais profundas.
Dois terços dos cidadãos do mundo acreditam que não são
governados democraticamente. Dizem que vivem numa democracia,
porém ela não é democrática. E isso é considerado normal
Dois terços dos cidadãos do mundo acreditam que não são governados democraticamente. As pessoas dizem que vivem em uma democracia, porém ela não é democrática. E isso é considerado normal. A classe política é o grupo mais desprestigiado em todas as pesquisas internacionais sobre prestígio profissional. Inclusive, na Itália, os mafiosos e as prostitutas se saíram melhor que os políticos. As pessoas diziam que pelo menos eles dizem o que fazem, diferentemente dos políticos. Insisto que isso é prejudicial para a maioria dos políticos, que são honestos e tentam fazer seu trabalho. Mas quando há um sentimento tão generalizado no mundo, os políticos fizeram algo que os colocou como classe homogênea, porque não é excepcional: foi empiricamente constatado pelos estudos de sociologia política.
Quando as coisas vão “mais ou menos”, tudo continua igual. Estudos mostram que 75% das pessoas votam contra alguma coisa, e não a favor. As mensagens na propaganda política são, na maioria das vezes, negativas, pois os profissionais de marketing político sabem que uma mensagem negativa tem cinco vezes mais impacto que uma mensagem positiva. Portanto, todos atacam todos, e assim todos os políticos afundam na opinião das pessoas.
Porém, quando as coisas vão mal, quando há uma crise, há um despertar de interesse por saber como as coisas poderiam ser diferentes. Quando os cidadãos percebem que não estão satisfeitos com as alternativas que existem, cria-se uma insatisfação. Então, rompe-se a confiança básica entre os cidadãos e aqueles que os deveriam representar. Esse desencontro entre o que as pessoas pensam e seus representantes significa que os representantes da democracia caminham para um lado, enquanto o sentimento dos representados vai por outro.
Devemos lembrar que, de acordo com o modo como se organiza a insatisfação popular, podem ocorrer movimentos extremistas, fascistas, racistas, xenófobos, que já se vê na Catalunha. Foi o que ocorreu na crise dos anos 30 – da qual não surgiu a revolução socialista, mas o fascismo. Por esse motivo, é importante que outros movimentos coletivos, com valores positivos, humanos, humanistas ocupem o espaço para preencher essa lacuna entre a política e a sociedade.
Portanto é necessário que a ideia de uma reconstrução da democracia esteja nas ruas, aqui e no mundo. Aqueles que representam a democracia hoje não podem fazer essa reconstrução, pois ela vai contra seus interesses como grupo profissional e grupo político. Muitos tentaram implantar mudanças, porém seus próprios partidos cortaram esses projetos. É o sistema que bloqueia essa reconstrução, e não os indivíduos. Esses sistemas têm interesses poderosos, relacionados ao poder político, econômico, cultural, tecnológico. Se não houver uma pressão social, não haverá mudança. E a mudança social inicia com as mentes: o que muitas pessoas estão fazendo, aqui e em outros lugares, é mudar a forma de pensar de si mesmas e das demais, pensar diferente e pensar juntos.
* * *
Três temas me parecem básicos para a reconstrução da democracia. Poderiam ser debatidos aqui. Um é a democracia através da comunicação. Outro é que tipo de instituições democráticas e de reforma democrática necessitamos. Por último, se existem outras formas de democracia.
A comunicação é fundamental, pois é a base da relação entre poder e contrapoder. A democratização da comunicação é o princípio da democratização das instituições da sociedade. A comunicação para toda a sociedade é um direito fundamental: a comunicação livre, autônoma e para todo o mundo é um direito tão fundamental quanto a saúde e a educação. Esse direito concretiza-se hoje pela internet e pelas redes móveis como direito humano fundamental.
O acesso à internet precisa ser universal. Também o acesso à telefonia foi subsidiado. É essencial multiplicar pontos de acesso.
As pessoas precisam poder acessar quando necessitarem
O acesso à rede precisa ser universal e subsidiado. A forma de financiar este direito depende das negociações entre os reguladores públicos e as empresas de telecomunicação. Na história das telecomunicações, o acesso à telefonia foi subsidiado em diversos países e o mesmo pode ser feito com a internet. Também é essencial a multiplicação de pontos de acesso público e gratuito, nos centros sociais, nas escolas, nas bibliotecas, para que a internet seja sempre algo possível para todos. As pessoas precisam poder acessar quanto necessitarem. Porém, isso não significa que só devemos nos comunicar pela internet. Por exemplo, a ideia de votar pela internet é um gravíssimo atentado à democracia, e a ideia de que as consultas médicas só deveriam ser feitas pela internet também é prejudicial. É preciso ter opções. O direito fundamental é ao acesso. Ele permite que todos se comuniquem com todos; permite a construção de uma rede em função de nossos projetos, nossos interesses e nossos sonhos.
Além disso, é preciso lutar pela liberdade de internet, pois o acesso à internet não é o mesmo que uma internet livre. Acabar com a censura, acabar com a invasão de privacidade, que é uma prática constante, e a livre circulação de conteúdos digitais. Implica ir a quem está por trás das leis: empresas de conteúdos culturais e os grupos de pressão que atuam para que não haja liberdade na internet (…).
Também é preciso que se crie instituições e processos democráticos de forma concreta. Existem medidas muito concretas para uma reforma política e institucional.. A reforma na lei eleitoral para que não se discrimine as minorias políticas, e a possibilidade de contabilizar votos nulos e brancos. Como fazê-lo? Para isso, é preciso imaginação. Mas acredito que a ideia de representar os votos nulos e brancos no parlamento é muito interessante. Entre outras coisas, porque nas eleições de Barcelona, por exemplo, eles somam quase 7%.
A possibilidade de eleger pessoas não filiadas a partidos é básica. Um dos maiores escândalos da democracia é que se vote apenas em um partido. (…) Infelizmente, ninguém diz nada sobre isso, tudo continua igual, porque os que podem mudar são aqueles que se beneficiam desse sistema.
Quanto ao governo, insisto na transparência informativa absoluta pela internet. Tudo o que os cidadãos têm o direito a saber, tem que estar na internet, acessível. Mas não em letras pequenas em cinza, e sim como um sistema dinâmico, usando técnicas como as da publicidade, que torna as informações compreensíveis. Dessa forma se abriria a possibilidade de começar a construir alguma confiança nas instituições democráticas.
A internet deveria se utilizada em processos participativos e de consulta.
A participação precisa ser mais que presenciar uma
reunião burocrática, ao final de um dia de trabalho
As enormes possibilidades da internet também deveriam ser utilizadas para processos participativos e de consulta, em uma grande quantidade de problemas concretos, particularmente em nível municipal. A democracia participativa pode ser muito ampliada, se puder ir além da presença em uma comissão municipal burocrática, depois de um cansativo dia de trabalho. Se os processos de participação fossem estendidos a internet, inclusive com voto indicativo, a democracia poderia ser mais abrangente. Os representantes políticos teriam que ser submetidos a organismos que os supervisionem, mas isso daria muito trabalho. Insisto nesse ponto que as propostas do acampamento são muito precisas e vale a pena pensar nelas, refletir sobre elas e debatê-las.
Mas há algo mais importante. É a criação de novas formas de democracia, a partir dos processos de debates em curso. O mais importante, na minha opinião, não é o que se propõe, mas como se propõe. Não é tanto o que se faz, mas como se faz. Pois é aí que está a questão. Uma democracia futura não sairá de documentos, por mais completos e bem formulados que sejam. Sairá de práticas coletivas, que vão experimentando novos mecanismos de deliberação, representação e decisão. Vamos aprendendo no caminho. Esse é o método, diria eu, político e científico. Através de experiências, pois é muito difícil que alguém invente um sistema novo, que substituiria o outro sem que haja debates e sem que as pessoas saibam exatamente o que está acontecendo. Daí a importância do que está sendo feito aqui e em outras ocupações de praças:, a participação em comissões, a coordenação de comissões e o poder de decisão das assembleias; que cada coletivo específico gere suas próprias formas que podem ser controladas pelas pessoas que participam. É o que está sendo feito aqui, mas não apenas aqui, não apenas nos acampamentos, mas na sociedade.
O resultado disso seria a substituição da democracia dos partidos para a democracia das pessoas. É essencial o que já está sendo feito, que não haja líderes no processo, que se troquem as posições de influência, que se mantenha a abertura total, e tolerância total ao debate. O direito à estupidez é um direito humano fundamental, e deve ser respeitado. Que não haja mecanismos formais de militância, como não há aqui, que se confie, sobretudo, na capacidade coletiva, por interação, por uma estrutura em rede, de autocorreção dos defeitos, no conjunto da sociedade. Isso não é uma utopia, isso está sendo feito aqui, e se é feito aqui, pode ser feito na sociedade.
Não defendo isso como modelo único, mas em uma fase de experimentação. Essa forma de participação permite ver a emergência de modelos distintos, na prática. É um processo lento, porque queremos ir longe. Vamos fazer o que gostamos, vamos criar uma democracia, tranquilamente, e não depressa, como o é a vida hoje em dia.
Minha grande experiência com movimentos sociais – começando com maio de 68, do qual participei ativamente – me diz que aqui, e que em todos os acampamentos ao redor do mundo, existem raízes. Porque quaisquer que sejam as formas, elas se expandirão. Impulsionarão mudanças profundas, precisamente por ser este um movimento de pessoas, não de organizações. E as pessoas não são criadas ou destruídas, mas as pessoas se transformam.
É essencial que esse processo de reconstrução da democracia
sustente um princípio fundamental. Um imperativo categórico,
que na minha opinião, já se expressa: a não-violência
Mas não será fácil. E quando os poderes se derem conta de que as praças falam sério – pois ainda não se dão conta disso – reagirão, provavelmente de forma violenta. Existem muitos interesses em jogo. Por isso é essencial que esse processo lento e profundo de reconstrução da democracia viva com um princípio fundamental. Um imperativo categórico, que na minha opinião, já se expressa aqui, que é a não violência.
Depois de 11 dias de acampamentos por toda a Espanha, não houve nenhum incidente violento. Por isso, a violência provável do poder deve ter como resposta a não-violência das pessoas. E para isso é preciso muita coragem, porque responder a violência com violência é uma reação de medo. Será preciso trabalhar muito com as pessoas que têm tanto medo, que não o superam, e que se tornam violentas. É preciso ir a um nível superior, o da superação do medo a partir da aceitação medo. A única forma de superar o medo é sair da solidão, juntar-se com os demais, e se superarem o medo sem violência, tudo é possível.
Se precisasse criar um slogan, ele seria: medrosos do mundo inteiro, uni-vos pela rede, pois só podem perder seu medo.
(Outras Palavras)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Governos do PT enterram de vez o regime público nas Comunicações


Nos últimos 15 anos, o campo político-econômico das Comunicações passou por profundas mudanças em todo o mundo, como parte mesmo das transformações operadas no próprio sistema capitalista mundial. Não foram meras reformas “neoliberais”, respostas superestruturais às transformações em curso. Foram mudanças de natureza econômica e política, por um lado impulsionadas pelo, e, por um lado, impulsionadoras do reordenamento geral de todo o sistema. A esquerda nunca entendeu muito bem esse processo, resistiu por um bom tempo até mesmo a admiti-lo, jamais conseguiu formular-lhe um projeto político alternativo.
O resultado, como tem dito o filósofo István Meszáros, é termos hoje, ao menos nas democracias liberais ocidentais, dois partidos de direita, aquele que se diz Conservador (ou denominações similares) e faz políticas conforme; e aquele que se diz “Social-Democrata” ou “Socialista” e faz política conforme… a dos conservadores. O PT, no Brasil, não escapou à sina dos partidos socialistas europeus, na última década. Na Europa, através dos “indignados” – que nada podem fazer além de manifestar indignação – estamos vendo onde chegou esse impasse. O Brasil que aguarde a sua vez.
Salvo no êxito de seus programas focados e compensatórios, programas estes teorizados e formulados pelos neoliberais aos quais faltava, porém, disposição política e substrato social para implementá-los, o PT, no governo Lula e, agora, neste início de governo Dilma, apenas deu continuidade, em alguns casos aprofundou, as políticas herdadas do governo FHC. Foi assim na macroeconomia, foi assim nas políticas industrial-tecnológicas, energéticas, educacionais, agrícolas… foi assim nas Comunicações.
Durante 60 ou 70 anos, até os anos 1980, ao longo do padrão capitalista então dominante, alcunhado “fordista”, as políticas de Comunicações, em todo o mundo, eram pautadas por um princípio básico: serviço público. Mesmo nos Estados Unidos, onde o setor era oligopolisticamente controlado por grandes corporações empresariais (AT&T, NBC, ABC, CBS), prevalecia a idéia de que esta era uma área que deveria estar submetida ao interesse público, existindo uma agência de governo encarregado de zelar por isso: a FCC (Federal Communications Comission). Nos demais países, em geral, o setor era, todo ele, diretamente estatizado. No Brasil, as telecomunicações eram estatais, e a radiodifusão dependia de concessões públicas.
Nos países capitalistas avançados, o regime público atingiu um dos seus principais objetivos: a universalização dos serviços. Estatísticas dos anos 1970 mostravam que em todos os países europeus ocidentais, nos Estados Unidos, no Japão, praticamente 100% das residências possuíam tanto receptores de televisão quanto linhas telefônicas, sem falar, claro, do atendimento às indústrias, estabelecimentos comerciais, bancos e, também, escolas e demais serviços públicos. Não era o caso do Brasil. Só então começávamos a expandir a nossa planta telefônica e o acesso à televisão. Na década 1990, menos de 20% das nossas residências tinham linhas telefônicas e menos de 880%, televisão (uma desigualdade que, vis-à-vis os países centrais, fala por si).
Então o capitalismo mudou, logo mudaram as Comunicações. Reestruturam-se as corporações multinacionais, nisto as redes de comunicação ganham novas e estratégicas funções nos circuitos de acumulação. Emergem, em menos de duas décadas, grandes conglomerados mediáticos globais, incorporando telecomunicações e produção/programação de conteúdos em um mesmo modelo de negócios que, logo, aspira também, para o seu interior, a nascente internet. O antigo telefone de voz começa a ser substituído por novos meios tecnológicos e práticas sociais de intercâmbio e interação que essas corporações comandam. A antiga televisão aberta começa a desaparecer, substituída por centenas de canais pagos de acesso fixo ou móvel, e pela internet. Em alguns países, a exemplo da Holanda, ela já sumiu das estatísticas. Em outros está prestes, inclusive nos Estados Unidos. O Brasil também vai chegar lá.
Era uma época de hegemonia política neoliberal. Atendendo aos interesses emergentes e aos velhos interesses que se reinventavam, políticos de direita, diante da perplexidade paralisante da esquerda, introduziram reformas nas leis que regulavam as Comunicações que, em uma palavra, delas eliminavam o princípio do regime público. Caberia exclusivamente ao mercado, desde então, comandar a evolução futura desse setor, um setor essencial, tanto econômica, quanto política, quanto cultural, quanto ideologicamente. Sobretudo ideologicamente.
No Brasil, a reforma foi feita em 1997-1998, no governo FHC, através da Lei Geral de Telecomunicações e da privatização esquartejada da Telebrás. Reforma parcial: FHC não ousou mexer com os ainda poderosos interesses globais, quer dizer, da Rede Globo. A LGT, seguindo aliás receituário mundial, dividiu os serviços de telecomunicações em dois modos: regime público e regime privado. E também seguindo o receituário mundial (vide leis dos EUA, da França e da Alemanha, todas de 1996), reconheceu que a velha telefonia fixa, ainda muito importante no Brasil, deveria seguir sendo prestada em regime público. Tudo o mais, isto é, tudo o que iria começar a se expandir a partir de 1997-1998, seria colocado em regime privado.
Considerando-se as enormes desigualdades sociais e regionais do Brasil e, não menos importante, a crença que ainda se podia alimentar de que um partido como o PT faria uma política realmente de esquerda em nosso País, era de se esperar que, uma vez no governo, ele trataria de reverter aquele projeto de entregar exclusivamente ao mercado o futuro das Comunicações brasileiras. Teve uma primeira oportunidade em 2003, quando foram renegociados os contratos de concessão assinados em 1998 com a Oi, Telefônica, Brasil Telecom e Embratel.
Ao invés de fortalecer o regime público, o governo Lula, com apoio da Federação dos Trabalhadores em Telecomunicações (FITTEL-CUT), passou a advogar que a “competição” iria expandir as comunicações. Para isto, baixou o decreto 4.733 de 2/06/2003, onde incorporava todas as ilusões competitivas que então eram advogadas, entre nós, pela Embratel, apostando em soluções que nunca funcionaram em lugar nenhum do mundo. Mais tarde, a Embratel, sob nova direção, acabou resolvendo os seus problemas associando-se à NET, isto é, adquirindo a sua própria infra-estrutura capilarizada, enquanto o decreto, por inexeqüível, tornava-se letra morta.
O PT teve uma segunda oportunidade agora, neste limiar de governo Dilma. Não apenas porque, mais uma vez, os contratos seriam renegociados, de novo num momento em que um governo inicia mandato respaldado pelas urnas, mas sobretudo porque, desta vez, está absolutamente claro que o futuro das Comunicações, de todas as Comunicações, inclusive da televisão, encontra-se nisto que se convencionou chamar banda larga, ou seja, numa infra-estrutura que permita tráfego de dados em altas velocidades. O problema não se limita à internet. O problema trata das corporações mediáticas que hoje produzem, programam, transportam e distribuem notícias, entretenimento, publicidade, espetáculos em todo o mundo. O problema não se limita à Oi ou Globo, grupos periféricos no contexto mundial. O problema se chama Time-Warner, Disney, Vivendi, News Corp., Google, Microsoft, Apple, AT&T e que tais.
Tratava-se de reconverter ao regime público essa infraestrutura essencial para a democracia, justiça social, educação, cultura e até para a soberania nacional. O governo Dilma optou por curvar-se aos lobbies, tratou o assunto fragmentariamente, ignorando a chamada “convergência”, e reduziu-o a mais uma política compensatória, esta que dará às camadas sociais de renda baixa condições de obter algum acesso a uma banda algo alargada, vista como solução melhor do que acesso nenhum. Assim como sabemos, o telefone móvel pré-pago usado pela metade parece também melhor do que celular nenhum… Antes que expirem, em 2025, os contratos de concessão agora renovados, a telefonia fixa já terá deixado de existir. Com ela, o regime público. A televisão aberta, também em regime pú-blico, igualmente estará moribunda, tão logo a maioria dos lares brasileiros tenham aderido à televisão paga (leia-se Fox, TNT, HBO, CNN, ESPN, Cartoon Network etc.) – o que deve igualmente acontecer nos próximos 20 anos, se não antes. E a infraestrutura de comunicações (voz, imagem, dados, televisão, internet etc., etc.), fixa ou móvel, com menos ou com mais de 1Mb, estará toda nas mãos de três ou quatro corporações estrangeiras, até porque, pelo andar da carruagem, mesmo a nacional Oi não demorará a mudar-se para Lisboa…
A não ser que até lá, no clamor da indignação, a esquerda ressuscite.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A crise Kleber do Palmeiras é página virada

Guilherme Mendes

Nação Palestrina,
A imprensa marrom e, em parte, nossa inabilidade têm criado uma verdadeira fábrica de "crises" no nosso time.
Isso porque estamos no G-4 e com um desempenho invejável no Campeonato.
O mais recente episódio envolvendo o nosso Vice – Presidente, Roberto Frizzo, e o atacante Kléber mostrou como são os meandros do futebol e suas informações.
Frizzo, ontem, em entrevista à rádio 97 FM mostrou toda a sua habilidade como dirigente, esbanjando o equilíbrio e comedimento que por vezes fizeram falta em momentos críticos.
Não tenho dúvidas de que Kléber saiu muito prejudicado deste embate e terá que demonstrar em campo, com mais e mais garra, o amor jurado em prosa e verso ao Palmeiras.
Isso sem falar nas declarações grosseiras em ataque a Frizzo.
Goste ele ou não, o clube tem um corpo diretivo eleito pelos conselheiros e que é responsável por suas atitudes.
É inadmissível uma postura deseducada contra alguém que está lá representando toda a coletividade palmeirense.
Não se ataca o homem, mas sim a instituição.
Nesse sentido, tenho certeza de que o Palmeiras saiu fortalecido desse entreveiro.
Lamentável foi a postura do Flamengo que não demonstrou oficialmente o seu interesse pelo atleta, bem como faria para alcançar esse objetivo.
Pede-se profissionalismo e ética, mas o que mais vemos no futebol é amadorismo e deslealdade.
Ciente do bom momento que passamos, Frizzo tratou de minimizar a "briga" com o atacante.
Tem certos momentos em que é melhor recuar para avançar depois.
Que esse seja apenas mais um capítulo desagradável de uma novela que termine com um final feliz, ou seja, o título de 2011.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Palmeiras faz 3 no time de futebol da moda, no entanto a torcida quer saber do Kleber

Guilherme Mendes

A exibição do Verdão contra o Santos – que é o time da moda – fez-nos lembrar os antigos duelos mantidos com o time da Vila.
Palmeiras e Santos nos áureos tempos do futebol brasileiro – décadas de 50, 60 e 70- sempre travaram memoráveis confrontos cujos resultados eram imprevisíveis.
Inúmeras foram as oportunidades em que um dos times não vivia um bom momento – caso específico do Palmeiras que há tempos não consegue  manter uma sequência de jogos sem grandes alternâncias – e que no confronto direto entre ambos acabava por superar seu adversário.
Obviamente, que não queremos comparar o nível dos atuais times – tanto do Palmeiras e do Santos – quanto do futebol brasileiro em geral, com aquele das citadas décadas de ouro.
Fazemos a comparação apenas no que concerne ao momento diverso que Palmeiras e Santos vivem no cenário futebolístico  brasileiro.
Antes do início da partida e após o fraquíssimo desempenho do Palmeiras frente ao América Mineiro ninguém, em sã consciência,  apostaria numa vitória do Palmeiras tão tranqüila e  contundente.
Kleber ainda do Palmeiras
Não se diga que o Santos estava com um time desfalcado, uma vez que o Palmeiras também não contou com Valdívia, Kleber e Thiago Heleno.
Felipão, ao contrário do que ocorreu nos jogos contra o Ceará e contra o América Mineiro, acertou em cheio na escalação do time, tendo sacado da equipe titular os ineficientes Linconl e W. Paulista, promovendo a entrada de Dinei e de Patrick.
Correta, também, a escalação de Leandro Amaro no lugar de Thiago Heleno, Muito embora esteja longe de ser um zagueiro de qualidade  ao menos foram evitadas improvisações – caso específico de Chico – que não maioria das vezes são frustrantes.
Quanto ao jogo propriamente dito a atuação de Maikon Leite somente veio comprovar o acerto de sua contratação. Temos a impressão de que se Patrick tiver uma sequência de jogos na sua posição de origem – meia – poderá continuar evoluindo e, então, saberemos se terá condições ou não, de almejar  à condição de titular.
Finalizado, não poderíamos deixar de nos manifestar sobre o assunto da semana: Kléber ! Dizer que Kléber é um dos  melhores atacantes do futebol  brasileiro e que é fundamental no atual momento do Palmeiras é chover no molhado. !
No entanto, precisamos entender que um erro não justifica outro ! Se Lincoln e Valdívia possuem salário superior àqueles pagos a Kléber o que, no nosso entender , é injustificável tanto pela qualidade técnica de ambos, quanto pelo baixíssimo retorno que têm dado ao clube tal fato, por si só, não justificaria a postura adotada pelo Gladiador.
Afinal, Kléber tem um contrato em plena vigência e, ao que consta, ultimamente vem recebendo em dia.Um clube não pode conceder aumento a seus jogadores, sob pressão, a cada suposta proposta que o mesmo recebesse de outra agremiação, sob pena de comprometer seu orçamento que, no caso do Palmeiras, já se encontra combalido há décadas. Também a postura adotada por Kléber para forçar uma situação não nos agrada.
Esperamos, apenas, que mais este episódio seja resolvido da melhor maneira possível, e o mais brevemente possível, de modo a não afetar o tênue equilíbrio encontrado por  nossa equipe.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O péssimo acordo da banda larga

Por Carlos Lopes, no jornal Hora do Povo:

O “termo de compromisso” das teles com o Ministério das Comunicações (MiniCom) tem tanto a ver com o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) quanto o assalto ao trem pagador tem a ver com a obra filantrópica da Irmã Dulce.
Difícil, leitor, é saber por onde começar a descrição do que só é lícito classificar, no mínimo, de pouca (haja pouca) vergonha. O melhor que conseguimos foi esse resumo em 13 pontos:

1) Não há metas – o ministro Paulo Bernardo considerou, na entrevista coletiva em que, ao lado do presidente da Telefónica, Antonio Carlos Valente, anunciou o “termo de compromisso”, que é “compreensível” as teles não divulgarem onde e quando vão implantar a suposta banda larga de 1 Mbps a R$ 35,00, por causa da “concorrência”. Mas as metas são do governo ou das teles?

2) A velocidade de 1 Mbps é “nominal”, disse o ministro, ou, dizem as teles, “estatística” - em suma, não é nada. As teles não aceitaram limite mínimo de velocidade (falava-se em 20% a 40% da velocidade “nominal”) e o MiniCom cedeu, transferindo o problema para a Anatel. Hoje, as teles oferecem 1/16 da velocidade que está no contrato com o usuário, abaixo do exíguo limite da Anatel (10% da “nominal”). Mas nem o limite da Anatel consta do “termo de compromisso”. Portanto, as teles foram autorizadas a vender galo velho por peru de Natal, enquanto o cidadão paga pelo que não recebe.

3) As teles foram autorizadas, esclareceu o consultor jurídico do Ministério, Rodrigo Zerbone (de onde saem esses almofadinhas?), a diminuírem a velocidade se o usuário ultrapassar 300 Mbytes de “download” por mês (ou 500 Mbytes no caso da Oi). Esse limite seria aumentado para 600 Mbytes em 2012 e um Gbyte em 2013. Nas conexões móveis, que serão 85% dessa (para não ofender) imbecilidade, o limite é menor ainda: 150 Mbytes. Mesmo que o cidadão não assista vídeos, não receba por e-mail algumas fotos de qualidade razoável, nem fique escutando música, alguns dias navegando esgotarão o seu limite. Literalmente, diz o “termo de compromisso”: “Se ultrapassado o limite mensal de download (...) o Grupo poderá reduzir temporariamente a velocidade do serviço”. Portanto, quem definirá a velocidade será a operadora. O mesmo consultor esclareceu que, se o usuário quiser mais velocidade, terá de pagar mais. E nós pensando que o objetivo fosse pagar menos...

4) O preço de R$ 35,00 já não é muito baixo, mas é só por um ano. Depois, as teles poderão aumentá-lo. Esse preço, pelo compromisso de Bernardo com as teles, é agora fictício. Disse o presidente da Telefónica que “é muito difícil” oferecer banda larga a esse preço. Dificílimo. Sobretudo quando o Ministério das Comunicações o autoriza a escalpelar o usuário. É preciso, segundo a Telefónica, um “combo”, ou seja, empurrar junto serviço de voz e TV por assinatura – naturalmente, não a R$ 35,00.

5) Pois foi exatamente o que o MiniCom aceitou. As negativas de Bernardo de que não haverá venda “casada” (o “combo” do presidente da Telefónica) valem tanto que a nota das teles diz explicitamente: “... será também oferecida, por meio da Telefônica/Telesp, banda larga fixa (na tecnologia ADSL) de 1 megabit por segundo, por R$ 35,00, dentro de um plano alternativo que inclui telefonia fixa, com custo total para o consumidor de R$ 65,00”. E, diz o “termo de compromisso”, esses R$ 65,00 são “sem prejuízo da cobrança pelo tráfego [do telefone], pela prestação de utilidades ou comodidades e/ou por outros serviços”. Quanto à rede móvel, a “venda casada” foi liberada.

6) O preço das teles para fornecimento de linhas aos provedores é R$ 1.200,00 para 2 Mbps. O preço da Telebrás é R$ 230,00 para a mesma velocidade (e R$ 150,00 para 1 Mbps). Segundo o secretário executivo do Minicom, Cezar Alvarez, “comparado aos termos do mercado atual [R$ 1.800], sem dúvida [R$ 1.200] é melhor”. Comparado a um preço de monopólio maior, um preço de monopólio menor é melhor. Mas a ideia do PNBL era, exatamente, quebrar o monopólio – porque só assim é possível a universalização da banda larga, já que monopólio é, precisamente, o antônimo de universalização. Mesmo apenas no início, o PNBL foi bem sucedido: daí o preço da Telebrás. Não por acaso as teles queriam e querem acabar com a Telebrás e o PNBL. Diz Alvarez que a Telebrás “ainda não consegue atender a demanda de todo o país”. Nem vai conseguir, com o Bernardo colaborando com as teles. O preço destas, que o MiniCom aceitou, é para esmagar os pequenos provedores privados. Assim é a grande consideração do ministro Bernardo pela iniciativa privada. Contanto que ela seja monopolista...

7) As teles “oferecerão” ao usuário um “provedor gratuito” (putz!) - certamente, aquele que é de sua propriedade. Se o usuário não aceitar, terá de pagar mais por outro.

8) Quando for necessário um modem, será por conta do usuário.

9) Mas o “termo de compromisso” deixará de valer se as ligações (“backhauls”) das teles nos municípios não tiverem capacidade disponível. As teles, para aumentar a capacidade, poderão cobrar R$ 2 mil como taxa de instalação.

10) As punições às teles por infrações, nem ao menos serão simbólicas: não haverá processo administrativo se o compromisso (?) for desrespeitado. Em caso de irregularidades, as teles serão apenas notificadas, na esperança de que as corrijam. Se, por fim, forem multadas, poderão “transformar” o dinheiro das multas em “investimentos”. Isto é, ficar com o dinheiro das multas. Se a Anatel disser que houve correção da irregularidade, as multas serão extintas – sem que o dinheiro saia do caixa das teles.

11) Em troca de tais compromissos, o governo aceitou retirar as metas para banda larga do III Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo (PGMU, v. Capítulo IV, artigos 21 a 24, DOU, 30/06/2011). O presidente da Telefónica disse que o PGMU, em sua “nova” versão – já publicada no Diário Oficial da União (DOU) - é “bastante positivo”. Até na telefonia fixa, o “novo” PGMU dispensou as teles de obrigações na área rural, se não se interessarem em explorar as faixas de 451 Mhz a 458 Mhz ou de 461 Mhz a 468 Mhz (cf. artigo 9º, parágrafo 2º, DOU, 30/06/2011). Note-se que, ao contrário da banda larga, a telefonia fixa está sob regime público. Mas as teles é que decidem.

12) O “termo de compromisso” deixa de valer caso as teles aleguem que os seus custos aumentaram.

13) O ministro anunciou uma nova subsidiária da Eletrobrás (não sabíamos que ele também havia assumido o Ministério das Minas e Energia). O objetivo dessa nova empresa seria administrar a rede pública de fibras óticas – isto é, a Telebrás, que foi reativada para isso, seria apenas uma das empresas a usar essa rede. As outras, que o ministro chamou de “parceiras”, são as teles.

Bem, isso é tudo, por enquanto, leitores. Resta lembrar que o PNBL foi instituído pelo presidente Lula, e a Telebrás reativada, para universalizar a banda larga. O grande obstáculo à universalização, evidentemente, é o monopólio das teles, com seus preços escorchantes e absurda concentração nas faixas e locais de maior renda, apesar da péssima qualidade que oferecem ao usuário - em suma, esses bandidos para os quais o Paulo Bernardo está acabando com o Plano Nacional de Banda Larga.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Começa a mobilização pela Rio + 20 / Cúpula dos povos para 2012

Marco Amarelo (Ciranda)

Neste sábado, dia 02 de Julho, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro a plenária de mobilização para a cúpula dos povos da RIO+20 (A conferência da Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável). A plenária foi dividida num momento de formação e debate pela manhã, e as reuniões de grupos de trabalho com posterior apresentação de seus resultados no encerramento da plenária.
Choque Sistêmico
No momento de formação, Rubens Born, da ONG Vitae e Civilis, enfatizou que a Rio+20 mesmo sendo uma conferência puxada pelas Nações Unidas, é uma oportunidade para produzir um choque sistêmico, a partir da incidência e pressão dos movimentos sociais. Rubens procurou apresentar um panorama sobre motivações que mobilizam a sociedade civil, segundo ele, as desigualdades no mundo são o principal fator gerador de práticas insustentáveis. Vinte por cento da população mundial mais rica concentra 82% da riqueza produzida pelo mundo e, consequentemente, dos recursos naturais. Esta concentração de recursos está na mesma proporção sobre o consumo destes recursos e, por isso, não é justo tratar como iguais os países que detém mais recursos e os países com menos recursos, pois esta é uma relação de desigualdade na sua origem. Por isso, os países ricos devem ser responsabilizados na mesma proporção que degradam o meio ambiente. Para Rubens, esse é um dos principais desafios que as mobilizações da sociedade civil na Rio+20. Para ele, o princípio da isonomia nas regras compartilhadas entre os Estados na ONU, quando se trata em debater assuntos ligados a degradação ambiental, não pode garantir responsabilidades iguais para relações mundiais desiguais.
Calendário da Conferência
Rubens ainda apresentou um panorama do que estará acontecendo no Rio de Janeiro durante a Rio+20. A conferência da ONU acontecerá entre os dias 4,5 e 6 de Junho de 2012. Uma semana antes acontece a última reunião do comitê preparatório, onde os diplomatas fecham os documentos que serão apresentados à conferência. Entre a última reunião e a conferência, haverá um intervalo de 4 dias em que o governo brasileiro está propondo debater oito grandes temas com a sociedade civil mundial (dois grandes temas por dia). Durante os “16 dias no Rio de Janeiro”, que é o período de vigília da sociedade civil para a conferência, Rubens percebe como estratégico as mobilizações de rua que chamem a atenção dos diplomatas que estarão chegando ao Rio de Janeiro e que também mobilizem a sociedade e chamem a atenção para importância do evento.
Pressão política
Rubens finalizou sua fala chamando a atenção para uma pressão efetiva pela reforma da ONU que inclua os debates sobre sustentabilidade ambiental no centro das preocupações com a criação uma comissão de alto nível para tratar da questão. Muito se fala sobre governança econômica, mas é importante se falar também em governança ambiental. Rubens lamenta que a Rio+20 já foi anunciada como uma reunião que não produzirá decisões juridicamente vinculantes. No entanto, pondera que se houver um número significativo de chefes de Estado na conferência, é possível que se produzam indicativos politicamente relevantes para efetivação dessas reinvidicações.
Rio+20 e a juventude 
As mobilizações em torno da Rio+20 estão contando com o apoio dos movimentos de juventude de todo o país e do mundo. Carlos Henrique Painel, coordenador do Grupo de Trabalho do Rio de Janeiro, afirma a importância da inclusão da juventude na articulação e sugere que para além das grandes mobilizações em torno dos temas centrais, é importante que os equipamentos culturais da cidade sejam ocupadas durantes as mobilizações da Rio+20.
Na reunião do Grupo de Trabalho de Juventude, também se apresentou a proposta para o acampamento da juventude, que deverá privilegiar práticas sustentáveis como uma forma de exemplo e oposição aos custos ambientais que serão gerados pela Rio+20.
Agenda
A agenda até agora estabelecida até a Rio+20
  • Seminários regionais: De Julho a Setembro;
  • Conferência ETHOS: 7 a 8 de Agosto em São Paulo;
  • Sustentável (CEBDS): 27 a 29 de Setembro no Rio de Janeiro;
  • Segundo Seminário Nacional rumo a Rio+20: 17 e 18 de Outubro em São Paulo;
  • Data limita para as propostas para a secretaria da ONU: 1 de Novembro via internet;
  • Segunda INTERSESSIONAL da ONU: 15 e 16 de Dezembro em Nova York;
  • Seminário temático do Fórum Social Mundial: 25 a 29 de Janeiro de 2012 em Porto Alegre;
  • Terceira INTERSESSIONAL da ONU: 5 e 7 Março de 2012 em Nova York;
  • “16 dias no Rio de Janeiro”: De 26 de Maio a 10 de Junho de 2012 no Rio de Janeiro;
  • PREPCOM3 ONU: 28 a 30 de Maio de 2012 no Rio de Janeiro;
  • UNCSD-2012 (Rio+20): 4 a 6 de Junho de 2012 no Rio de Janeiro;
Estas são as atividades mapeadas até agora, e que agregará diversas outras atividades de mobilização que estão sendo preparadas.

Quem é o comitê facilitador até o momento?
  • Quatorze redes que lançarem iniciativa;
  • Uma secretaria executiva composta pela CUT;
  • Fórum Brasileiro de ONGs e movimentos sociais e defesa do meio ambiente;
  • Grupo de Apoio e Reflexão para o Fórum Social Mundial;
  • Rede brasileira de integração de povos;
  • Grupo de trabalho de mobilização que segue o processo oficial;
  • Grupo de trabalho Rio de Janeiro;
  • Grupo de trabalho Cúpula dos Povos;
  • Comitês Estaduais que estão se formando (até o momento São Paulo, Ceará, Pernambuco e Paraná);
  • Redes que estão colaborando mas que não estão comitê
  • Rede de ONGs mata atlântica;
  • Rede de ONGs do serrado;
  • Rede brasileira de educação ambiental;
O comitê facilitador está olhando tanto para o processo de mobilização da sociedade civil, quanto para o processo oficial.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Comissão da Verdade e da Justiça. Quando a pressa é inimiga da perfeição

Victor Zacharias

Foram propostas mudanças essenciais no Projeto de Lei, mas existe o temor que nada seja alterado porque ele será encaminhado ao Congresso com urgência, urgentíssima.
Aconteceu dia 27 de junho uma Audiência Pública para discutir sobre o Projeto de Lei da Comissão Nacional da Verdade. Foi naquele prédio público onde ficam os deputados eleitos para representar o povo paulista (sic), e que, neste caso, ironicamente está situado ao lado do Círculo Militar e atrás da 2ª Divisão do Exército, Divisão Presidente Costa e Silva – um dos ditadores mais violentos que tivemos e que fez o Ato Institucional nº 5 para ter poderes supra constitucionais. O local é cercado simbolicamente das representações militares, sem que se perceba, sugere que o passado ainda tem muita influência na democracia de hoje. Projeto original. O Projeto de Lei original cria a Comissão Nacional da Verdade para examinar e esclarecer as graves violações, efetivar o direito à memória e a verdade histórica, isto é, lavar a roupa suja publicamente, e diga-se bem suja, o objetivo é que haja a reconciliação nacional. Desde maio de 2010 que este PL 7376 está pronto, mas “por causa de forças ocultas” e não ocultas, estava parado no Congresso, isso não impediu que ele fosse discutido por muitos e também pelo Coletivo de Mulheres pela Verdade e pela Justiça e pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos, o resultado dessa discussão foi que em alguns pontos este projeto original precisará ser alterado. Principais alterações. Nas reuniões ficou estabelecido que são necessárias novas diretrizes para a criação desta Comissão:
- Apuração dos crimes cometidos pela ditadura militar;
- Para que nunca mais aconteça;
- Pela consolidação da democracia. Outros pontos são: • resgate do nome original “Comissão da Verdade e da Justiça”; • redução do período da investigação para 1964 a 1985; • troca da expressão” reconciliação nacional” por “consolidação da democracia” e • “as atividades da Comissão Nacional da Verdade não terão caráter jurisdicional ou persecutório” deve ser substituída por uma nova redação que encaminhe os resultados da investigação para as autoridades competentes. A legitimidade da comissão é outra preocupação, por isso a seleção dos membros deverá ser discutida com a sociedade civil, em especial com os que resistiram a ditadura. Os membros não deverão pertencer ao quadro das Forças Armadas e nem aos Órgãos de Segurança do Estado, a eles deverá ser dada garantia de imunidade civil e penal e também a proteção do Estado. Uma Comissão de 7 pessoas é pequena para analisar este enorme volume de dados durante 2 anos, a proposta é que ela tenha 15 participantes com autonomia e estrutura adequada, orçamento próprio e recursos financeiros, técnicos, humanos, etc . Os resultados deverão ser publicados em detalhes para o conhecimento de todo país, assim a justiça se afirmará e consolidará a cultura de respeito de valorização aos direitos humanos. Urgência, urgentíssima. Há uma notícia de que o projeto será enviado como urgência, urgentíssima, e pela experiência dos legisladores que defendem as alterações este tipo de encaminhamento não permitirá as mudanças sugeridas. Isto será muito ruim para o Brasil na questão dos direitos humanos perante o mundo e perante os que sofreram na ditadura. A situação é crítica, o país já foi condenado há uma sentença da corte da OEA em que o Brasil é obrigado a cumpri-la no prazo de 1 ano. Para quem não sabe, a urgência, urgentíssima é o regime de tramitação que permite a inclusão automática na Ordem do Dia de proposição para discussão e votação imediata, ainda que iniciada a sessão em que foi apresentada, a requerimento da maioria absoluta da composição da Câmara ou de Líderes que representem esse número, aprovado pela maioria absoluta dos deputados, isso quer dizer 51%. Esse regime dispensa parecer aprovado em comissão – o parecer pode ser dado oralmente pelo relator no plenário. Pelo que dá para perceber tudo fica na mão do governo federal que tem força para escolher o relator. Ele poderá aprovar o projeto de lei como foi feito originalmente. Isso seria desastroso. Os movimentos já pediram uma audiência com a presidenta Dilma para discutir, porém tem sido constantemente adiada. É nestas horas que lembramos que a pressa, urgência, urgentíssima, é inimiga da perfeição, da verdade e da justiça.





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