sexta-feira, 28 de maio de 2010

Gorete do Pânico da Rede TV, a baixaria e os direitos humanos

Victor Zacharias

O equívoco da política privada de assistência social pela TV
A Gorete da Silva, pobre, moradora na periferia de São Paulo e sem ter quase nenhum dos dentes, obteve do Pânico o diagnóstico de que sofria profunda infelicidade, e a recomendação para reverter esta situação foi: Gorete deve se submeter a várias intervenções estéticas que transformarão sua aparência e assim a sua vida. O objetivo era deixá-la parecida com uma manequim da chamada "alta costura", quer dizer, enquadrá-la no padrão de beleza comercial vigente, no Império do Efêmero, como diz o título do livro do filósofo Gilles Lipovetsky. todo este esforço a deixaria feliz pelo resto da vida.
Os direitos humanos e a comunicação
Os direitos humanos, que foram estabelecidos firmemente depois da Segunda Guerra Mundial, tinham o objetivo de evitar a exploração de alguns seres humanos por outros, especialmente os que tinham grande poder econômico, portanto homens e mulheres foram considerados iguais, independentemente de sua classe econômica, cor de pele, situação social e crença religiosa. No PNDH3, recentemente transformado em decreto lei, a comunicação e a educação visam à formação de nova mentalidade coletiva para o exercício da solidariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. A comunicação deve orientar a formação do sujeito de direitos, seu objetivo é combater o preconceito, a discriminação e a violência, promovendo a adoção de novos valores de liberdade, justiça e igualdade (partes do texto da lei).
Padrão de beleza
Parece que o Pânico entende como "novos valores de dignidade", a inclusão de pessoas neste "tal" padrão de beleza, que é estabelecido, reforçado e estimulado pela mídia, indústria e mercado, é inatingível. A disseminação destes pensamentos e imagens, fetiches da felicidade, tem produzido mais desigualdades, porque divide os seres humanos por aparência e símbolos que custam muito dinheiro para serem obtidos.
A receita para fazer a Gorete "dar certo" necessitou de grandes tecnologias, foi preciso invadir seu corpo com próteses de todo tipo, de acordo com dados da emissora tudo custou R$113.000,00, preço que nem a emissora pagou, pois trocou por mechardising.
A exibição deste programa atraiu pelo bizarro, e o que pareceu mais uma piada dos humoristas do Pânico pôde afetar a vida de milhões de pessoas, tanto psicologicamente, como economicamente, e provavelmente gerará frustração e depressão, muitas mulheres colocarão seus problemas de vida na possibilidade de entrar no padrão de beleza corporal. Milhões de brasileiras saudáveis também sentirão o peso da Ditadura da Beleza.
O Pânico desrespeita as leis e os direitos humanos
Sempre na ponta do ranking da Etica na TV, no quesito baixaria, porque explora o grotesco, o sexo e humilha pessoas pobres e vulneráveis socialmente, o Pânico é exibido em um canal de TV que possui uma concessão pública e por isso deve produzir programas com o foco no interesse público.
Rádio e televisão são concessões públicas
A televisão e o rádio NÃO são iniciativas puramente privadas, são serviços públicos administrados por particulares por meio de outorgas concedidas pelo estado brasileiro e tem prazo para acabar. Devem respeitar a todas e todos que têm acesso à televisão, considerando a diversidade, cultura e faixas etárias que compõe a audiência de um canal de televisão.
O decreto lei dos Direitos Humanos diz o seguinte sobre a comunicação na Diretriz 22, Objetivo estratégico I, Ações programáticas, item: - b)Promover diálogo com o Ministério Público para proposição de ações objetivando a suspensão de programação e publicidade atentatórias aos Direitos Humanos. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e o - c)Suspender patrocínio e publicidade oficial em meios que veiculam programações atentatórias aos Direitos Humanos. Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça. Isso sem falar no que diz a Constituição Federal: Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Problema aparentemente resolvido
A política privada de assistência social não resolve nem os problemas dos que são objetos de exploração, só estimula mais desigualdade e gera esperança do povo na entidade errada, desistimulando a cidadania. As pessoas são usadas e abandonadas, após o curto tempo de fama a maioria cai no esquecimento e na depressão. Quando não dão mais audiência vão para o limbo, como vimos acontecer com o ET, do Gugu, com o Zina, do Pânico e a próxima candidata é a Gorete.
Que tal você refletir e agir sobre estes assuntos? Até quando o oligopólio da comunicação vai desrespeitar as leis e o povo, impunemente?
Fica aqui um protesto: É preciso que também os donos da mídia tenham Ficha Limpa, sigam os direitos humanos, respeitem as leis e tenham responsabilidade social ao transmitir seus programas, porque eles influenciam o estilo de vida de milhões de adultos e de crianças brasileiras.

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