O editor e fundador do portal Carta Maior, Joaquim Palhares, esteve ontem na atividade chamada "Entrevista", que é dedicada aos estudantes do curso de Formação de Governantes da Escola de Governo. Ele relatou sua experiência como um dos representantes dos empresários na l Confecom - Conferência Nacional de Comunicação, analisou um pouco do comportamento da mídia, avaliou a sua importância e qual seria o instrumento para acelerar as transformações necessárias no setor de comunicação.
Um pouco da sua história.
Joaquim Palhares nasceu em Porto Alegre e começou a cursar História e Economia. Pelo seu envolvimento com as lutas políticas acabou sendo forçado a interromper seus estudos. Retomou mais tarde, porém em outro curso, e se formou em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Durante a faculdade aderiu a um grupo que estudava a teoria do Direito Alternativo, que avalia a pena do infrator não pela lei, mas pelo fato social, entendendo que na contravenção pode haver culpa do Estado.
Nesse período surgiu a Carta Maior, um boletim jurídico, impresso e que chegou a ter 8 páginas e 60 mil exemplares. O nome Carta Maior foi escolhido porque fazia a defesa das suas idéias apoiado na Constituição Federal.
Sua luta foi além disso, Palhares indignado com a facilidade de ganho dos bancos protagonizou um intenso embate que o notabilizou como: "inimigo número um do sistema financeiro".
Fórum Social Mundial.
Em 2001, durante o nascimento primeiro Fórum Social Mundial - uma grande mobilização dos movimentos sociais com o objetivo de acirrar a luta contra o domínio da elite econômica, este primeiro evento aconteceu no mês de janeiro para se contrapor ao Fórum de Davos que é a concentração dos mais ricos do planeta para formulação de diretrizes de exploração econômica mundial - Palhares percebeu que não haveria cobertura da mídia e nascia a publicação da Carta Maior na Internet, dirigida à divulgação das propostas apresentadas no FSM, que conviveu algum tempo com a Carta Maior de caráter jurídico, mas acabou sendo descontinuada. Hoje o site tem mais de 300 mil acessos qualificados por mês e com as novas parcerias este número crescerá rapidamente.
I Confecom - Conferência Nacional de Comunicação.
A primeira Confecom foi uma das mais de 80 conferências realizadas no governo Lula. As conferências são realizadas para que temas importantes do Brasil sejam discutidos com a máxima participação de todos os interessados e da sociedade com um todo. No caso da Confecom muitas dificuldades apareceram, desde a demora no estabelecimento da data, até a convocação pelo poder público nas instâncias municipais e estaduais. Particularmente em São Paulo, cidade e estado, o executivo se recusou a convocar. Isto demonstra o grande poder da comunicação, que não é o quarto poder como dizem, mas o primeiro, disse Palhares.
A Confecom era tripartite: estado, sociedade civil e empresários, isto garantiria o equilíbrio nas decisões e nas discussões, mas as grandes empresas não quiseram participar e o motivo é que elas acreditavam que haveria uma tentativa de controle da mídia, isso fere a liberdade de imprensa. Este temor não tinha justificativa, "O que defendemos é a liberdade de expressão e de imprensa, mas não de empresa", disse Palhares. Mas como há uma dissidência neste bloco da mídia, a ABRAS, que congrega a Rede TV e a Rede Bandeirantes, veio para o debate juntamente com outros empresários médios e pequenos, dando legitimidade as decisões. O resultado da Confecom foi muito bom, 672 propostas foram aprovadas, porém Palhares entende que a implementação será muito difícil e demorada, no entanto se tivesse que priorizar a realização de uma das propostas aprovadas escolheria a que propõe a formação de um Conselho Nacional de Comunicação.
Futuro da Comunicação
Fazendo previsões, comentou que na França os novos casais já não incluem o móvel para a televisão no enxoval, algo está mudando, isto é um sinal que está próxima a convergência dos chamados "triple players": telecomunicações, Tv e Rádio, e a Internet. Portanto, em breve, esta mudança tecnológica provocará alterações nas casas e na maneira de viver e de se comunicar dos seres humanos.
Imprensa de hoje
Hoje em dia a imprensa não assume que tem posição política, faz com que os leitores achem que o trabalho é feito imparcialmente, quando não o é. "A Globo é a favor da extradição do Battisti, mas não revela o porquê, eles não publicam uma linha sobre o massacre em Honduras, no programa Fantástico, de grande audiência, foi veiculado neste último domingo um comercial para celebrar o aniversário da Rede Globo. Cada um dos principais artistas da emissora gravou um texto no estilo do "slogan" da campanha do Serra: O Brasil pode mais, e para piorar tudo isso, a Rede Globo faz 45 anos, portanto o número que aparecia ao fundo durante todo o comercial é o mesmo do partido dos tucanos. Estamos em tempos de eleição, o resultado não poderia ser outro, a Globo tirou o comercial do ar, mas continuou alegando inocência. Isto é enganar a audiência, é ter lado, mas não revelar, mantendo a aura de imparcialidade, porque, principalmente, nas concessões públicas é importante que este valor seja, pelo menos, falsamente preservado.
Quanto ao mercado de comunicação ele se diz atônito, pois existem milhares de jornalistas se formando todos os anos e todos querem trabalhar na Globo. Acrescenta que as faculdades formam os estudantes, não para exercer a profissão, mas para serem técnicos trabalhando de acordo com o jornalismo de mercado, ou seja, como os jornais e as emissoras entendem a função, o que significa que as faculdades viraram cursos técnicos, o mercado invadiu a educação e virou seu objeto.
Palhares termina dizendo que não espera ver a democracia ser implantada na mídia na sua geração, mas a sua luta não vai parar, porque acredita que um mundo melhor é possível
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