segunda-feira, 7 de junho de 2010

O alcoolismo, a seleção brasileira e a Copa do Mundo.

Victor Zacharias

Neste momento da Copa do Mundo, o sentimento de ser brasileiro é reavivado pela mídia de mercado. São muitas mensagens para provocar o aumento desta emoção, infelizmente por irresponsabilidade social, vemos também, todo dia e toda hora, atletas da seleção brasileira, que são modelos sucesso para muitos jovens e crianças, fazendo propaganda de bebida alcoólica.
Filmes comerciais que utilizam todas parafernália tecnológica, cores e trilhas músicas envolventes passam em todos os meios de comunicação, e como se não bastasse ainda têm os "merchandisings". A tentativa é ter sempre as marcas presentes diante dos olhos da audiência, até durante os jogos quando os logotipos aparecem expostos nas telas e nas camisas dos jogadores, fazendo a identificação da Copa do Mundo, jogadores com o Brasil e os brasileiros.
Como disse o ex-jogador Sócrates: "Puro comércio. É uma feira. Você mostra seu produto e tenta vendê-lo. Nada mais."
O que fica muito ruim são nossos atletas, hoje quase artistas, fazendo propaganda de produtos alcoólicos, potencialmente nocivos à sociedade, isso evidencia falta de compromisso público, e nisso, volto a dizer o Pelé é um bom exemplo.
Leiam parte de trabalhos científicos que selecionei sobre o assunto para justificar a minha indignação.
Dados de consumo de bebidas com álcool
O consumo de álcool na adolescência, de acordo com pesquisa realizada no Reino Unido*, atinge cerca de um quinto dos jovens entre 12 e 13 anos de idade, mas essa proporção aumenta de 40% para 50% entre as idades de 14 a 15 anos e mais de 70%, aos 17 anos.
No Brasil, de acordo com a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) **, o uso regular de bebidas alcoólicas pelos adolescentes começa aos 14,8 anos e pelos adultos jovens, aos 17,3 anos. Esse aumento tem suscitado questionamentos na tentativa de explicar tal movimento dos adolescentes, em virtude do risco a que ficam expostos.
Influência de propaganda
E comprovado por estudos que a publicidade e a propaganda influenciam diretamente nos processos de decisão e comportamentais, Volchan et al. demonstraram, em uma série de elegantes experimentos, como estímulos visuais com conteúdo emocional são capazes de modular o processamento sensorial e as respostas motoras, a ponto de efetivamente modificarem o comportamento humano.
Portanto já podemos entender que não temos assim um grande e extenso livre arbítrio, a liberdade tem um limite.
Estratégias de criação
Do ponto de vista operativo, as estratégias de propaganda são bem sucedidas não apenas por associarem de forma direta o consumo de seu produto com uma série de imagens agradáveis, tornando a mensagem alegre, bonita, erótica ou engraçada, mas porque essa correlação está voltada à criação de memórias afetivas positivas, ou " âncoras" , fundamentais em qualquer processo de tomada de decisões. Sempre que uma decisão precisar ser tomada, essa ancoragem acabará por determinar o grau de liberdade dessa decisão, na busca de um balanço positivo em nossa economia psíquica.
Aumento do consumo
Por essa razão, a fidelização de marca tende a estar associada a um aumento no consumo per capita de álcool, pois demanda um maior grau de identificação do consumidor com o produto. O álcool passa a fazer parte da própria auto-imagem, a constituir um estilo, um jeito de ser, reforçando ainda mais positivamente a memória afetiva que ancora a escolha pelo produto.
Volume de dinheiro investido pelas indústrias
No Brasil, apenas a indústria de cervejas fatura mais de R$ 20 bilhões por ano e gastou em publicidade, em 2006, mais de R$ 700 milhões (Folha de São Paulo, cotidiano, 22/05/2007).
O alvo da publicidade
Assim, Austin e Hust, fizeram uma análise de conteúdo e freqüência de propagandas de bebidas alcoólicas e não alcoólicas em revistas e televisão. Os autores verificaram que as propagandas dos dois tipos de produtos usavam apelos parecidos e, dessa maneira, um em cada seis nas revistas e um em cada 14 na televisão pareciam ter como alvo os adolescentes. Em termos de freqüência, os autores concluíram que as bebidas alcoólicas eram veiculadas constantemente em revistas e programas associados ao público juvenil.
Pronto, espero que você acesse a página da internet que indico e assine o manifesto para que os anúncios de bebidas alcoólicas, em qualquer grau, não apareçam mais nas televisões: Propaganda Sem Bebida

Consumo de álcool entre estudantes de escolas públicas da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil
O impacto da publicidade de bebidas alcoólicas sobre o consumo entre jovens: revisão da literatura internacional

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