domingo, 2 de outubro de 2011

Rio + 20, a natureza, o ecocapitalismo e os pobres.

Victor Zacharias

Em meados de setembro aconteceu em São Paulo, na Alesp, o 1º Seminário da Rio + 20, evento mundial que discutirá no próximo ano, a partir de 26 de maio até 10 de junho, no Rio de Janeiro, as questões da degradação do meio ambiente, os avanços, retrocessos e quais os serão os novos caminhos ecológicos para o mundo.

Esse 1º Seminário, o início da preparação para mobilização da sociedade, contou com a presença de militantes históricos que puderam dar um breve panorama histórico desde a Rio ou ECO 92. Moema Miranda, do Ibase e Marcos Sorrentino da ESALQ/USP, foram os primeiros a falar, depois tiveram a palavra Aron Belinky, da Vitae-Civilis e Tica Moreno, militante da Marcha Mundial das Mulheres.

Moema iniciou sua participação dizendo que até 1989 o mundo estava basicamente polarizado entre o capitalismo e o socialismo, havia uma alternativa, por mais que muitos não gostassem da União Soviética.

Os temas principais da Rio 92, avançados até para hoje, eram: 1)a economia verde e pobreza, e 2)a nova arquitetura da questão mundial. Naquele tempo a ONU era ainda legitimada como um espaço para criar compromissos comuns entre os países, mais do nos dias atuais. Porém, as décadas seguintes, mostraram que houve uma imposição do modelo neo liberal, a fragilização dos estados e o fortalecimento das corporações.

As grandes empresas formaram o mercado e estabeleceram a gerência, organização e definição da vida, as formas de relação entre nós e com o ambiente, disse Moema: " A sensação de que nós como humanidade não pertencemos a natureza, que a natureza é uma coisa distante, que no máximo estão nela alguns humanos que são suficientemente primitivos para se envolverem com a natureza, mas que nós ocidentais somos uma coisa diferente".

Karl Polanyi, autor da Grande Transformação, ainda tinha esperanças que a sociedade fosse estabelecer controle sobre o mercado. O que vimos foi o inverso, comentou Moema.

A proposta da ECO 92 tinha o alternativo, mas desaguava no modelo de exploração ilimitada da natureza tal qual o socialismo. O conceito de progresso continuava sendo o econômico, "a capacidade de abuso e uso do que a natureza generosamente nos brinda".

As corporações significam o que é progresso e desenvolvimento: progredir, crescer e consumir = possuir, ter e se apropriar. Disse Moema, no meu ponto de vista, depois da vitória do neo liberalismo, na América Latina, garantimos governos de "esquerda" que conseguiram romper com a lógica neo liberal e o estado pode exercer e expressar o seu papel na defesa do comum.

O Betinho, que criou o Ibase, costumava dizer, quem tem fome, tem pressa. Não dá para fazer a revolução. Tem que alimentar o pessoal. Ações emergenciais não são contra revolucionárias.

Mas a exploração continua forte, com certeza é difícil reverter isso, a diferença é que hoje temos mais gente ao nosso lado, estamos sem fome de mãos dadas caminhando para o abismo, porém super contentes. O processo é suicída.

A crise não é financeira, ambiental, tem multiplos aspectos, é de civilização do modelo e da concepção da forma de ser e estar que hegemoniza.

É preciso criar um novo paradigma de ser e estar no mundo, apesar do discurso do "agora é minha vez" estar na fala de muitos: Agora que comprei meu carro, você vai dizer que ele polui?

Pelas condições de hoje, a idéia de participação está dada pelo desenho de crescimento e desenvolvimento. Precisamos questionar este desenho. Se o desenvolvimento sustentável não pode dar certo, vamos fazer a economia verde? Com os mesmos padrões? É tempo de criar um questionamento profundo ao capitalismo, porque não bastar pintar de verde, nem todas as cores do arco íris darão conta de reverter esta rota da destruição da natureza. Temos que repensar a essência, ela está na lógica da vida que se constrói a partir do mercado.

Finalizando Moema deixou um pensamento de alteridade: Eu não sou se você não é. A liberdade é a possibilidade de reconhecer a sua humanidade, de ser parceiro na luta pela sua felicidade, só vamos conseguir no diálogo, com vontade de escutar, vontade de estar junto sem falar. Temos que aprender a construir juntos, enquanto ainda dá tempo, um mundo melhor.

Em um próximo texto colocarei as palavras, também registradas, do Marcos Sorrentino.

Assista neste curto vídeo um trecho da fala de Moema Miranda.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...