Victor Zacharias
No Seminário de Altos Estudos Contemporâneos promovido pela Associação de Amigos da Escola Florestan Fernandes foi feito um debate sobre futebol, vários convidados e mais um vez o Beluzzo não foi. Feito o registro, vamos a interessante fala do Prof. Lucas, cujo apelido é Legume, que apresentou parte de um dossiê feito por ele sobre as Torcidas Organizadas.
Em tempos de Copa do Mundo todos podemos, diz ele, podemos perceber como o futebol tem um caráter de mobilização popular, isso é inegável, porém há muitas contradições neste processo.
As análises vão desde o espaço, torcedor e suas movimentações e regras.
Na arquibancada que é o lugar para torcer, as barreiras sociais são desfeitas, pobres e ricos se unem por um mesmo time e neste tempo espaço eles são iguais, portanto o conflito social deloca-se das classes para os times.
O torcedor que antes participava e palpitava até na escalação, hoje em dia é um mero consumidor, isto é, ele paga para ver um espetáculo e deve ser respeitado por isso, porque pagou. É participante no consumo e não no time e nem no clube. A parte dele é a do lazer, do prazer, fica na superfície na qual todo consumidor fica. Não é o torcedor que escala o time e suas reclamações, na maioria das vezes, fica restrita ao seu círculo pessoal, isto é, não influencia diretamente no time.
Ele pode torcer, só isso e tem direitos porque paga o ingresso.
Quando a torcida do Corinthians grita: É festa na favela ! e do São Paulo FC é chamada de elite, há uma retomada nas origens do clubes, é o resgate nas relações identitárias.
As torcidas organizadas são movimentos criados para ter voz na formação do time, na contratação e demissão de técnicos. como se dissessem: Não somos só consumidores, queremos participar disso.
Elas criam certas regras para o seus membros, conheça algumas:
- se houver algum confronto e se um grupo estiver em minoria nunca deve fugir, mesmo que esteja sozinho deverá brigar e resistir;
- há mérito em roubar algo do time adversário, como bandeira, etc;
- conflitos com a polícia são vistos como positivos;
- as cores dos outros times são símbolos e não podem ser usadas, como o verde, o rosa, que simboliza a torcida do São Paulo.
Os conflitos sempre acontecem entre trabalhadores, é raro a classe média entrar na briga. A violência é espetacularizadas pela mídia quando acontecem em lugares próximos aos estádios ou centros urbanos, quando as brigas acontecem na periferia, não interessa a mídia de mercado.
As Torcidas Organizadas, dentro e fora do Brasil tem mostrado não só a mobilização para torcer, mas algumas tem engajamento em questões políticas que envolvem a questão das classes.
Assista o vídeo e conheça as origens políticas dos times daqui e de fora como o Zenite, Lazio, Livorno, Corinthians e a Gaviões da Fiel e o Ferroviário.
Um comentário:
É interessante que encontros como este sejam promovidos. Clube e torcida precisam estreitar as relações, não da forma perniciosa que ocorre (torcida como massa de manobra nas politicagens clubísticas). O discurso de classes sociais em torcidas no critério Time A, periferia e Time B, elite, precisa ser flexibilizado diante de uma realidade mais ampla.
Muito bom!
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