Aconteceu ontem, 16/3/10, bem na Av. Paulista, o emblemático centro dos negócios, no espaço do Itaú Cultural, o primeiro dia do terceiro Fórum Internacional Criança e Consumo realizado pelo ousado Instituto Alana.
A primeira coisa que me chamou atenção foi a nova produção de conhecimento que o Alana disponibilizou sobre o tema nos livros que lançou: Honrar a criança. Como transformar este mundo e mais outros cinco volumes dedicados ao entendimento, pelo ponto de vista dos especialistas nacionais e internacionais, da relação entre a criança e o consumo este que é grandemente promovido pelos meios de comunicação sem nenhuma regulação.
O tema do Fórum deste ano é o mesmo que dá título ao livro: Honrar a criança que é explicado pela Ana Lúcia Villela no prefácio: "...é nosso dever proteger, educar, amar e respeitar, enfim, honrar a criança." Ela ainda diz em outro trecho: "Ao observar os recreios das escolas, as brincadeiras criativas estão cada vez mais escassas e a valorização da nossa cultura também. Somos um país em que as crianças passam mais horas diante da televisão. Isso gera imitação de atitudes violentas, a convivência com a erotização muito precoce, uma grande apatia, uma maior propensão à obesidade, entre outros graves problemas."
Durante a mesa a primeira pessoa a falar foi a Cenise Monte Vicente, mestre em psicologia social e autora de vários livros, com grande experiência de políticas públicas. Cenise tomou como eixo de sua palestra os direitos fundamentais descritos no Estatuto da Criança e do Adolescente, capítulo II: Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Cenise esteve na luta pela implantação da Classificação Indicativa para os programas de TV e notou como existe uma enorme resistência da mídia em adotar algo que só traria benefícios à criança, mencionou que uma grande rede de TV difamou a Andi (Agência de Notícia dos Direitos da Infância) junto aos apoiadores porque era contra esta regulação.
Esta é umas das atitudes da mídia que reflete a falta de delicadeza com que as concessionárias de rádiodifusão tratam este assunto, se submentendo completamente ao mercado e seus desejos.
A palestrante internacional foi a inglesa Corina Hawkes que discorreu sobre as estratégias que o marketing utiliza em todo mundo e também no Brasil para estimular o consumo infantil, principalmente de alimentos de baixa qualidade, usando prêmios e brinquedos como forma de atrair as crianças.
Ela mostrou que as sociedades de 24 países desenvolvidos e democráticos aprovaram leis que regulam ou restrigem, nos meios de comunicação, as propagandas e promoções dirigidas ao público infantil.
Guilherme Canela coordenador da área de comunicação e informação da Unesco no Brasil, comenta que se o mercado pede regulação ao governo para o sistema financeiro a regulação do meios de comunicação não deveria ser mal vista.
A mídia tem feito uma proposital confusão entre regulação e censura, obviamente são coisas completamente diferentes.
Guilherme fez uma detalhada exposição sobre a evolução dos direitos da criança até os dias de hoje. A criança tem que ter, como é constitucional, prioridade absoluta, e em uma eventual disputa entre "Mídia X Criança", é esta última que deverá ser protegida.
É importante dizer que o Instituto Alana realizou uma pesquisa que mediu em São Paulo a percepção dos pais de crianças de 3 a 11 anos e alguns dos resultados merecem destaque:
- 73% dos pais concordam que deveria haver restrição ao marketing e a propaganda voltada para as crianças;
- As grandes preocupações dos pais com as crianças são: 80% - evitar a exposição à violência e 75% - ter uma alimentação saudável;
- Os pedidos mais comuns das crianças são os alimentos de baixa qualidade: - bolacha 82%, -refrigerantes 70% e salgadinhos 64%, que são consumidos algumas vezes por semana.
Estas preferências são provavelmente muito estimuladas pelas ações de marketing que envolvem propaganda na televisão e prêmios e brinquedos no ponto de venda.
O Fórum Internacional Criança e Consumo continua hoje e amanhã e começa às 19h no Itaú Cultural que fica na Avenida Paulista, 149, São Paulo, SP (próximo à estação Brigadeiro do metrô).
Um comentário:
fica uma grande interrogação a respeito de quem representa o que na sociedade brasileira, pois a pesquisa realizada pela UNESCO bem como diversas pesquisas realizadas por outras entidades que trabalham diretamente a temática da mídia democrática e comunicação, apontam de diversas formas a insatisfação do público com o conteúdo e as formas de representação social apresentadas, especialmente pela televisão; nos restando saber como cobrar que o nosso legislativo, executivo e judiciário atendam aos anseios da população em suas ações. Será que eles estão sofrendo de solidariedade inoperante? rsrs
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