terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tentativa e erro, é o que faz o socialismo avançar - Paulo Singer

Victor Zacharias

A Casa da Cidade promove a série de debates: De Jânio a Lula. No mês de outubro o professor Paulo Singer, atual Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, que viveu esta época, contou algumas de suas histórias e experiências. Nestes trechos de suas falas dá para perceber dois pontos que vemos ainda hoje, a comunicação influenciando as opiniões da população e a luta contra a corrupção usada como motivo para revoluções.
Paulo Singer
O plano de Jânio
Nas eleições de 1960 a direita elegeu Jânio Quadros e a esquerda o Vice, João Goulart. A grande iniciativa de Jânio, que tinha como marca a promessa de varrer a corrupção com sua vassourinha, nos seus primeiros meses, foi proibir rinha de galo, uso de biquínis na praia, e mais algumas medidas moralizantes. Jânio passou a ser atacado pelo advogado Carlos Lacerda, que tinha um jornal e foi para a televisão combatê-lo, e ao que tudo indica, o presidente concebeu um golpe político mediante sua renúncia.  Seu pensamento estratégico era de que seu vice não seria aceito pelo militares, por isso enviou uma carta renúncia no dia 25 de agosto, mas ninguém teve a ideia de pedir a sua volta, como ele tinha planejado. O resultado foi que, depois do regime ter sido mudado para parlamentarismo, João Goulart voltou, foi empossado como Presidente e Tancredo Neves foi seu Primeiro Ministro.
O combate a corrupção
Em 64 a revolução aconteceu sem sangue, e veio o regime militar que durou 21 anos, o motivo do golpe era para acabar com a corrupção e a subversão, os inquéritos policiais militares tinham este foco, por exemplo, Ademar de Barros, governador de São Paulo, e seu sucessor foram depostos por acusações de corrupção.

O Socialismo
Socialismo democrático deve dar os frutos que se espera, disse Paulo Singer, seu conceito é semelhante ao da economia solidária. A renda básica faz parte da proposta socialista, tem o mesmo princípio, ninguém vai sofrer ou morrer prematuramente por falta de dinheiro. O problema é o partidarismo.

Paulo Singer contou que no ano 2000, em um Congresso do PT, foi questionado se a bandeira do socialismo deveria ser abandonada, pois já estava manchada, era controversa, a reação usava contra o partido, etc. Neste tempo alguns dirigentes se manifestam publicamente e os militantes petistas protestaram, foi quando Lula chamou Antônio Cândido e propôs uma discussão interna, porque não havia motivo para esconder o assunto. Um debate sobre o tema socialismo começou, o próprio Paulo Singer e o Chico de Oliveira foram convidados a integrar este grupo de pensadores.  Neste debate que durou vários anos, outros companheiros vieram colaborar e desenvolveram teses, como a ex-petista, Marina Silva que apresentou o Socialismo e o Meio Ambiente.

O processo foi rico e uma das conclusões a que cheguei, diz Paulo Singer, é que não se deve dar a palavra socialismo um sentido único, algo que dura para sempre, porque nós estamos praticando o socialismo e inclusive percebemos que há erros e hipóteses que não se confirmam.
A economia solidária é uma vasta experiência socialista, mas, por exemplo, os princípios dela no dia a dia dos quilombos é um desafio que se revelará na prática, mesmo sabendo dos valores semelhantes como a posse coletiva da terra, o cultivo comum e a facilidade de se organizarem em cooperativas.
O socialismo não é aceito por todos, de certa forma é bom, porque só aprendemos quando nos negam, mostram o nosso erro e nos convencemos dele. O elogio nos faz um bem danado, porém não aprendemos nada. A economia solidária está sendo construída com erros, tentativa e erro. É minha convicção é que este método fez a humanidade avançar, a forma dedutiva em geral leva a enganos enormes, claro não devemos repetir erros. Para chegarmos a vacina contra o câncer será preciso experimentar, sem medo de errar,  completa Paulo Singer.

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