quarta-feira, 1 de julho de 2009

Agência de propaganda indica um consumo sem fim, agora é a vez dos miseráveis.


Ontem, convidado por um amigo fui, de manhãzinha, assistir à apresentação de um trabalho de pesquisa sobre a riqueza na base da pirâmide, mas a riqueza dos miseráveis, foi assim o tema que ficou na minha mente.
A apresentadora foi uma daquelas pessoas de agência de propaganda que tem o cargo com um super nome, era a Vice presidente para Novos Negócios etc e tal. Também formada em uma universidade européia onde tinha feito mestrado. tinha mais um galardão era funcionária de uma agência multi nacional há uns bons 30 anos que por elegância prefiro não mencionar o nome. Com todos estes adjetivos seu discurso já ganhava ares de tese de mestrado.
Ela falou de uma pesquisa feita no Brasil que semelhantemente na Índia e na China levantou o potencial dos seus habitantes mais pobres procurando mostrar o mercado lucrativo que existe nestes lugares miseráveis, os filmes que apoiavam as afirmações evidenciavam o desejo que estes habitantes têm para consumir produtos com marcas.
O discurso destacava que 80% da população do mundo vive nestes continentes. Eles tem vontade de comprar, ou seja um aviso aos marketeiros para a existência de um mercado volumoso que quer consumir, isto é, basta explorar.
O Brasil dizia ela, a uma platéia de jovens profissionais e acredito diferenciada dos potenciais clientes a quem este material seria mais adequado, tem também um imenso contingente de pessoas que ganham até 2 dólares por dia e que são carentes de produtos, com a vantagem da homogeneidade social, ao contrário das castas dos indianos e com uma língua sem tantos dialetos como a dos chineses, mas com a mesma sede de compra.
O que dá para notar, para um publicitário como eu, é que o discurso da agência continua sem perceber a responsabilidade que temos para com a terra, ela parecia não se importar com os danos que o planeta iria ter se aqueles 80% consumissem mais e mais. Deu para entender que a cidadania só seria possível com o consumo, senão que interesse poderia haver nessas pessoas?.
Apesar do castigo da crise financeira e dos constantes avisos dos ecologistas, os marketeiros continuam querendo aumentar e aumentar as vendas e bater as metas, mesmo sabendo que o sistema capitalista é concentrador e que NUNCA, com educação ou sem, estes 80% terão vida digna, a não ser que os paradigmas da sociedade mudem.
A tristeza vem por saber que este ponto nem é tocado, o texto lido pela apresentadora pareceu não notar as grandes catástrofes que sinalizam a todo instante o esgotamento da terra e a ameaça do extermínio do homem causado por este abuso.
A posição prática dos ditos inteligentes nem sequer propõe uma solução sustentável, o caminho é o mesmo. A proposta é estimular o consumo dos que ganham 2 dólares por dia e o bordão da apresentadora é que há diferença entre os miseráveis, eu diria, alguns podem dar lucro.
Como arma fatal para este objetivo existe a televisão que cobre 98% dos lares brasileiros é um perfeito professor que ensina como e o que se deve consumir.
Nas entrelinhas ela falou a verdade, todos estes pensamentos que temos são pautados pela televisão e todos os seus programas educativos(sic): novelas, programas infantis, jornalismo verdade, filmes violentos e programas de auditórios eróticos com músicas sensuais.
É assim, infelizmente, que o marketing e a propaganda continuam o seu trabalho, sem responsabilidade social com os seres humanos e nem ecológica com a natureza.

3 comentários:

Maria Cristina disse...

Interessante essa colocação, depois verificamos no setor de conciliação, o povo desesperado sem saber como pagar suas compras. Querer todos querem.

Celina disse...

Fiquei indignada ainda ao ler o referido texto. A palestrante fala sem um conhecimento de causa (vá ela viver na Favela do Cartier no Jardim Ângela com um salário mínimo e em situação de violência doméstica), isso para mim é a prova da falta de responsabilidade social que tem que ser combatida por todos nós cidadãos e cidadãs brasileiros. Penso que podemos escrever uma carta de repúdio e indignação e enviar aos orgãos que ela representa.
A hipocria impera nos bastidores da mídia brasileira.

Alê Almeida disse...

Olha, tenho ficado cada vez mais bege-fosca com a comunicação contemporânea. Começando pelo não atendimento à regulamentação brasileira no que diz respeito à radiodifusão, já é para sentar e chorar. Acredito que a fonte dessa busca pelo consumo esteja lá nos nossos civilizadores: somos o que temos. Assim, provavelmente levemos décadas, senão, séculos para modificar o atual cenário. Porém, atitudes como este blog, por exemplo, contribuem muito para a democratização da comunicação e consequentemente para a melhoria de nossa sociedade.
Abraços,
Alê Ameida

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