quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Livro sobre Michael Jackson do jornalista Osvaldo Bertolino.

Victor Zacharias

Esta matéria foi publicada no blog do jornalista Osvaldo Bertolino, e o que me chamou atenção foi perceber na linguagem das mulheres, as reproduções de preconceitos de gênero e da cultura futebolística masculina.
Eu gostaria que as mulheres ao terem vencido o preconceito e iniciado a prática do futebol pelo gênero feminino, pois é um esporte eminentemente masculino, pudessem também ter inaugurado uma ética diferente, mas é pedir demais para quem está mergulhado na cultura capitalista. O estímulo a competitividade é extremo, o que importa é ganhar. Vale qualquer coisa, mentir, xingar e até agredir.

Para ilustrar o seu texto, o Osvaldo colocou dois vídeos que estão nos seguintes links:

Agressão do juiz à jogadora (se quiser ver, clique em cima)

Pancadaria no futebol feminino (se quiser ver, clique em cima)


Trecho do livro sobre Michael Jackson


Publico, in natura, trecho do livro que estou escrevendo sobre a vida da jogadora de futebol feminino Michael Jackson — Mariléia dos Santos — para ilustrar os vídeos acima.

Ela foi considerada a “Pelé” do futebol feminino, a principal estrela da constalação de atletas que brilharam nos anos 80 e 90 e abriram as portas para essa modalidade esportiva no Brasil.

O episódio principal da história dos vídeos ocorreu durante a VI Taça de Futebol Feminino, organizada no começo de 1989 pela CBF e pela Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj).

Michael Jackson é a número 9 do Radar, a que sofre o pênalti.
Observe, no primeiro vídeo, a bela jogada da atacante.
E leia, em primeira mão, a parte do livro que narra o episódio.
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Apesar das imensas dificuldades, o Radar mostrou suas credenciais logo na estréia, goleando o Vasco da Gama por 5 a 1. Nas semifinais, o time aplicou 5 a 0 no Saad, de Campinas (SP), e conquistou o direito de disputar a final com o Sul América, do Amazonas. A partida com o Saad registrou um tumulto que entrou para o folclore do esporte brasileiro, mais uma vez protagonizado pelo árbitro Jorge Emiliano, o Margarida — homossexual assumido que ficou famoso pelos seus trejeitos que faziam a festa da torcida.

- O fato de assumir publicamente minha opção sexual não interfere em minha arbitragem num jogo feminino – disse ele no intervalo da partida.

Em 1983, quando o Radar conquistou a I Taça Brasil ao vencer a seleção de Goiás por 5 a 0, Margarida já protagonizara um espetáculo circense ao expulsar todo o time goiano. A partida acabou em pancadaria. O árbitro negou que tivesse dado um soco em uma jogadora, mas foi surpreendido ao saber que a imagem fora registrada pela TV.

- A tecnologia moderna me mata - reagiu.

No dia 8 de janeiro de 1989, na partida entre o Radar e o Saad, ele repetiria a cena. O jogo transcorria dentro da maior normalidade, com a máquina de jogar futebol de Copacabana (o time do Radar) ostentando 4 a 0 no placar e dominando inteiramente a partida, quando, aos 27 minutos do segundo tempo, Michael Jackson dominou a bola e entrou na área pela direita driblando todo mundo até ser parada com falta. O juiz marcou pênalti e deu cartão amarelo para a jogadora Elaine da equipe paulista por reclamação. Diante da insistência da atleta, ameaçou expulsa-lá.

O pênalti foi convertido em gol. Enquanto as jogadoras da equipe carioca comemoravam, a atleta do time paulista insistia nas reclamações e levou um tapa de Margarida no rosto. A confusão foi total. O preparador físico do Saad, Lariê Alves Tremura, marido de Elaine, invadiu o gramado para agredir o juiz. Flagrado pelas câmaras de TV, deu para o ouvir o desafio.

- Estúpido, vem bater em mim. Vem cá se você for homem – disse, furioso.

Margarida não se intimidou.

- Se você entrar aqui (no campo) eu te arrebento – respondeu o valente juiz.

Mulher e marido foram expulsos por Margarida. Em meio ao tumulto generalizado, o chefe da delegação do Saad, Romeu Carvalho de Castro, anunciou que a jogadora estava se dirigindo à delegacia a fim de registrar queixa. Eurico Lyra (o representante da CBF) também tratou de tirar o corpo fora ao dizer que pedira a Margarida para não apitar o jogo porque ele não tinha mais nada que provar. O representante da CBF disse que o juiz ignorou os seus apelos.

Com a boca sangrando, Elaine registrou a ocorrência na 77ª delegacia de Niterói e Margarida foi enquadrado no Artigo 129 do Código Penal, que diz:

- Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.

O inspetor que atendeu a ocorrência disse que Margarida seria chamado a depor dentro de 15 dias e que o flagrante só não foi lavrado porque o árbitro não foi encontrado no estádio. O jornal O Dia registrou, no entanto, que ele fugiu tranquilamente do flagrante pela porta da frente do estádio.

Elaine fez duras críticas ao juiz.

- Desde o início do jogo ele vinha pegando no meu pé. Apenas reclamei com a nossa zagueira e fui mal interpretada. Ele é covarde e quis dar uma de macho comigo – disse ela, na delegacia, ao jornal O Dia.

Muito nervosa e amparada pelo marido e pelo chefe da delegação do Saad, Elaine não se conformava com a agressão.

- Sempre fui uma jogadora disciplinada. Em onze anos de futebol, foi a primeira vez que recebi um cartão vermelho – disse ela.

O marido também mostrou toda a sua indignação.

- Foi um ato de covardia e estamos aqui para exigir que a justiça seja feita. É inadmissível que atletas sejam agredidas dentro do gramado – disse Lariê.

Eurico Lyra, o representando a CBF, prometeu que se a Justiça comprovasse a agressão de Margarida a entidade daria total apoio ao Saad.


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